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quarta-feira, 29 de abril de 2015

10 dicas de como elaborar bons itens de múltipla escolha

Instrumento sempre presente na avaliação dos alunos, os testes exigem boa formulação

Deborah Ouchana

Os testes de aproveitamento desempenham uma função importante em sala de aula, uma vez que são frequentemente usados para compor as notas dos alunos. Mas será que os professores estão planejando testes que realmente avaliam os alunos e os auxiliam a identificar dificuldades de aprendizagem?
Antes de elaborar o teste, o professor deve ter em mente o que será medido. Uma boa forma de organizar o que será avaliado é criar uma matriz de referência dos objetivos educacionais. Os descritores devem focar os resultados de aprendizagem – um erro muito comum é a formulação de objetivos que focalizam a atividade de ensino, as experiências de aprendizagem do processo de ensino, os assuntos a serem tratados, ou mais de um tipo de resultado de aprendizagem, por exemplo.
O passo seguinte, e fundamental para uma avaliação adequada dos alunos, é a criação dos itens de múltipla escolha. Esse tipo de questão apresenta várias vantagens porque são fáceis de marcar, práticos para exames de larga escala e adaptáveis a vários níveis de operações mentais.
Veja abaixo 10 dicas de como elaborar bons itens.

1) Planeje cada item para medir um único resultado de aprendizagem

O correto é escolher o descritor e, depois, o texto-base, e não tentar “encaixar” um item em um descritor, depois de pronto. Por isso é importante fazer uma vasta pesquisa de textos e temas em fontes diversas e não se restringir aos livros didáticos.

2) Procure minimizar o tempo de leitura do estudante

Evite textos-base com mais de 15 linhas.

3) Use linguagem direta e adequada à faixa etária do aluno

Evitar pegadinhas, pois elas podem pegar tanto os alunos que não sabem a resposta, como os que sabem.

4) Evite informações desnecessárias no texto-base

Mas lembre-se que ele deve conter todas as informações necessárias para a resolução do item.

5) Na construção do enunciado, apresente um único problema claramente formulado

Uma dica é formular o enunciado como pergunta a ser respondida ou como uma frase para ser completada.

6) Formule enunciados com proposições positivas e evite termos absolutos

-> Não se deve empregar termos como “exceto”, “não”, “nunca”, “errado”.
-> Não utilize termos como “somente”, “sempre”, “exclusivamente”.


7) Não formule alternativas com opções absurdas

-> Os distratores devem ser plausíveis, ou seja, uma alternativa que, para o aluno que não dominou a habilidade, parece a correta.
-> Uma ideia é incorporar erros comuns dos estudantes como distratores.


8) Construa alternativas com tamanho similar

Uma opção muito longa destacada na resposta pode indicar ao aluno que aquela é a resposta correta.

9) Evite itens baseados em opiniões

Esse tipo de item geralmente é ambíguo e pode gerar confusões.

10) Use itens de múltipla escolha para mensurar o raciocínio, e não somente para a memorização

O grande desafio é construir itens para operações cognitivas de alto nível. Evitar conhecimentos ultra específicos ajuda a fugir da memorização.


Fonte: Curso “Avaliação e análise de itens pela Teoria Clássica dos Testes (TCT)” – Érica Maria Toledo Catalani


 

Formação de leitores em outras etapas da Educação Básica:

Débora Rubin e Claudia Jordão

Educação Infantil

Em um contexto de pouca valorização da leitura, como a escola pode contribuir para a formação de leitores no Brasil? Como superar seus desafios e formar leitores autônomos que gostem de ler? Ensinar algo tão grandioso é uma tarefa desafiadora, mas, talvez por isso mesmo, uma das mais fantásticas que existem.

O estímulo à leitura pode começar desde cedo, ainda na educação infantil. Veja abaixo o cenário da formação de leitores na primeira infância, seus desafios e exemplos de práticas.

Cenário

A Academia Americana de Pediatria recomenda aos médicos que orientem os pais a lerem para os seus filhos. Desde o nascimento, a superestimulação tem se tornado uma constante em casa e invadido o espaço escolar. Livros no banho e e-books são elementos cuja proposta é desencadear o gosto pela leitura logo cedo. O equilíbrio entre inseri-los na cultura letrada e "forçar" funções para as quais ainda não estão preparados, defendem os especialistas, depende de bom senso.
 
Desafio

Como mediadores, pais e educadores têm a missão de apresentar os livros, as histórias e o mundo da imaginação a seus filhos e alunos. A falta de materiais de trabalho nas escolas é um problema a ser enfrentado. Pesquisa da pedagoga Cyntia Girotto revela que os livros do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) não contemplam crianças dos 0 até os 3 anos. O estudo "Literatura e Primeira Infância: dois municípios em cena e o PNBE na formação de crianças leitoras" foi realizado de 2011 a 2014 em Presidente Prudente e Marília, interior paulista. "Negar o acesso desse material aos pequenos é negar a eles a possibilidade de forjarem para si, desde a tenra infância, uma identidade leitora", diz Cyntia, professora na Faculdade de Filosofia e Ciências da Unesp-Marília.
 
Exemplos de práticas

O primeiro passo é o professor ter um critério para a escolha dos títulos. Afinal, nessa fase pré-alfabetização eles têm especificidades e mudam conforme a idade. "O livro do bebê é especial: tem de ser cartonado, ou emborrachado, e o texto imagético deve se agregar ao texto escrito, o que aguça as percepções, atenção, linguagem oral e memória", explica Cyntia Girotto. A partir dos 3 anos, obras que se utilizam do lúdico e da fantasia despertam a imaginação. A leitura em voz alta e a contação de histórias são práticas que devem estar presentes na escola. Para as crianças maiores, vale investir em rodas de leitura e na elaboração de ilustrações ou dramatizações a partir de um texto. "Quando partilhada, a leitura se torna saborosa, se transforma em uma experiência formadora", defende Gilda Carvalho, mestre em Literatura Brasileira e uma das autoras do Manual de reflexões sobre boas práticas de leitura (Editora Unesp).

Ensino Fundamental

Após a alfabetização, desafio do professor é inserir as crianças na cultura letrada

Rodas de leitura devem fazer parte da rotina em sala de aula

Débora Rubin e Claudia Jordão

Em um contexto de pouca valorização da leitura, como a escola pode contribuir para a formação de leitores no Brasil? Como superar seus desafios e formar leitores autônomos que gostem de ler? Ensinar algo tão grandioso é uma tarefa desafiadora, mas, talvez por isso mesmo, uma das mais fantásticas que existem.
Após a alfabetização, é importante que as crianças sejam estimuladas a participar ativamente da cultura letrada. Veja abaixo o cenário da formação de leitores no ensino fundamental 1, seus desafios e exemplos de práticas.
 
Cenário

Um dos problemas dessa etapa é avançar para além da alfabetização. "Quando se acompanha uma geração de alunos percebe-se que, em muitos casos, alcançadas as metas de alfabetização plena, os esforços para oferecer atividades de leitura diminuem", lamenta o relações-públicas Volnei Canônica, coordenador do programa Prazer em Ler do Instituto C&A. A educação no Brasil ainda tenta avançar no que diz respeito ao aprendizado de leitura nos primeiros anos do fundamental. A pesquisa Geres (Estudo Longitudinal da Geração Escolar 2005), feita em parceria por seis universidades e realizada em 303 escolas públicas e particulares, de 2005 e 2008, mostra que, ao final do EF 1, os alunos de escolas públicas apresentam uma defasagem equivalente a dois anos de aprendizado em relação aos estudantes de instituições privadas.
 
Desafio

Desenvolver e consolidar a fluên­cia na língua e a compreensão leitora são os grandes desafios da etapa. Ao mesmo tempo, seguir estimulando a participação ativa na cultura letrada numa hora em que já é possível dar autonomia para esse pequeno leitor. Professores podem e devem indicar livros, mas precisam propiciar à criança momentos em que ela possa fuçar bibliotecas e livrarias para descobrir o que a encanta. "A natureza, os animais, mistérios e fantasias atraem garotos e garotas", diz Zoara Failla, gerente executiva de projetos do Instituto Pró-Livro.
 
Exemplos de práticas

Para trabalhar a fluência, a compreensão leitora e promover o interesse pela leitura, Gilda Carvalho, da Unesp, propõe o ensino da língua através de textos literários. "Ao mesmo tempo que aprendem a gramática, as crianças estão lidando com vários tipos de textos, gêneros e autores", diz. Além disso, a criança recém-alfabetizada precisa ser estimulada a ler em voz alta. "O professor pode priorizar desde textos que contribuam para a alfabetização, com sílabas bem marcadas e rimas, até outros mais complexos, com narrativas mais engendradas, além de livros ilustrados e gibis", recomenda Gilda. Rodas de leitura devem fazer parte da rotina em sala. "Encontros com autores e produções de texto também estimulam", completa. 

Ensino Fundamental II
 
Entre os best-sellers e os clássicos da literatura: os desafios da formação de leitores no ensino fundamental 2
 
Ajudar o jovem a encontrar um título que atenda aos seus anseios, mas que o desafie e contribua para sua formação, é papel do professor

Em um contexto de pouca valorização da leitura, como a escola pode contribuir para a formação de leitores no Brasil? Como superar seus desafios e formar leitores autônomos que gostem de ler? Ensinar algo tão grandioso é uma tarefa desafiadora, mas, talvez por isso mesmo, uma das mais fantásticas que existem. 

Durante a adolescência, ajudar o aluno a encontrar o meio termo entre a leitura de best-sellers e de clássicos da literatura parece ser um dos maiores objetivos dos professores.
Veja abaixo o cenário da formação de leitores no ensino fundamental 2, seus desafios e exemplos de práticas.
 
Cenário

Essa é uma fase transitória carregada de mudanças e transformações no processo de maturação cerebral. "Geralmente, é aqui que surgem as consequências de não se ter aprendido princípios da sintaxe, regência verbal e tabuada", diz a neurocientista Elvira Souza Lima. Ao mesmo tempo, os alunos não têm mais uma professora responsável por eles exercendo a função de guia. Quanto aos livros, o leitor juvenil sente-se atraído por best-sellers que abordam de sagas vampirescas a romances e aventuras. Seus amigos e a mídia também o empurram nessa direção. Como lidar se nem sempre os títulos comerciais possuem o mínimo de qualidade?
 
Desafio

Encontrar o meio-termo entre a leitura de best-sellers e a literatura de qualidade e, ao mesmo tempo, tratar o hábito de ler de forma espontânea. "O importante é desenvolver a prática e promover a avaliação sobre o que se está consumindo", diz Zoara Failla, do Instituto Pró-Livro. "Acho muito bom que os jovens leiam esse tipo de texto, mesmo que muitas vezes o mundo adulto os desqualifique. Depois, é só consolidar esse interesse e oferecer os clássicos, para os quais os mais novos ainda não têm fôlego", diz Gilda Carvalho, da Unesp.
 
Exemplos de prática

É preciso que os livros estejam à mão das crianças. Para isso, recomenda-se a visita sistemática semanal à biblioteca com o empréstimo de obras. Leitura compartilhada e saraus literários também aproximam autores e leitores. É fundamental que o professor possa ajudar o jovem a encontrar o melhor título para ele: que atenda aos seus anseios, mas que o desafie para um grau de dificuldade maior, contribuindo para sua formação. "Ao criar espaço para discutir os best-sellers, o professor pode aproveitar para fazer um contraponto com histórias da literatura nacional ou universal", defende Volnei Canônica, do Instituto C&A. A ideia é mostrar que há uma gama de enredos com os mesmos temas. 
 
Ensino Médio
 
Como estimular alunos do ensino médio a explorar o mundo literário
 
Mesmo com toda a carga de conteúdo do vestibular, professores acreditam que é possível conquistar leitores nessa etapa
 
Em um contexto de pouca valorização da leitura, como a escola pode contribuir para a formação de leitores no Brasil? Como superar seus desafios e formar leitores autônomos que gostem de ler? Ensinar algo tão grandioso é uma tarefa desafiadora, mas, talvez por isso mesmo, uma das mais fantásticas que existem. 
No ensino médio, é comum que os jovens leiam por obrigação por causa das obras exigidas nos vestibulares, o que pode ser um problema na formação do leitor. Mesmo assim, professores acreditam que é possível conquistar leitores durante essa etapa.
Veja abaixo o cenário da formação de leitores no ensino médio, seus desafios e exemplos de práticas.
 
Cenário

Será que ainda dá tempo de conquistar um leitor? Apesar das dificuldades, nunca é tarde para adentrar o mundo literário, garantem os especialistas. Os alunos estão sendo preparados para prestar o vestibular e, além de toda a carga de conteúdo, eles se veem obrigados a encarar os “chatos” clássicos da literatura, sem tempo para ler o que lhes interessa de fato. E, claro, é muito difícil para um leitor tardio conseguir apreciar um texto de Machado de Assis, por exemplo. Ler por obrigação também pode ser um problema no processo de formação de um leitor. “Mas, se existe uma boa prática de leitura, com metodologias interessantes, as provas não serão um problema”, acredita Rosane Cardoso, professora de letras do Centro Universitário Univates.
 
Desafio

Mesmo que o momento seja de pressão para os processos seletivos, a neurocientista Elvira Souza Lima diz que a boa literatura pode ser uma ótima aliada na organização das ideias, no raciocínio lógico e para uma melhor compreensão dos sistemas simbólicos de várias disciplinas, ajudando a relaxar e a equilibrar tensões. “As maneiras de trazer a literatura, exigida nas provas, podem ser diversas. Claro que isso demanda tempo do professor. Mas a maior exigência é que ele seja leitor e possa influenciar seus alunos”, diz Volnei Canônica, do Instituto C&A.
 
Exemplos de prática

Visitas sistemáticas semanais à biblioteca, com o empréstimo de livros, seguem sendo uma prática recomendada – assim como rodas de leitura e saraus, o que ajuda a tirar o peso do estudo individual nessa fase. Unir literatura à arte ensina e desestressa. Uma boa ideia é ler livros que já foram adaptados para o cinema, exibir o filme e realizar um debate sobre as linguagens. Criar rodas de discussão para abordar os best-sellers que seduzem esses jovens é uma ótima oportunidade para o professor introduzir novos autores e novas histórias sobre temas que despertam o interesse desses alunos, mas com um grau maior de dificuldade. No colégio FAAP, a disciplina círculo da leitura procura analisar várias obras literárias, em especial a clássica. “Lemos partes das obras, trechos importantes e depois discutimos. Essa leitura normalmente é em voz alta. Em algumas aulas eu permito que os alunos tragam iPad, mas prefiro focar mais os livros mesmo”, diz a professora Sandra Raposo Tenório. “Às vezes apresentamos algumas partes de filmes, para ilustrar a história lida. O objetivo é que eles compreendam e interpretem a história, apesar de a linguagem estar muito distante. E que desenvolvam o hábito da reflexão. Eu acredito que a leitura em conjunto – professora e alunos ou pais e filhos, por exemplo – aproxima as pessoas e garante o afeto”.
 

Fonte: Revista Educação
 

Como o gosto pela leitura pode ser estimulado na educação infantil

A leitura em voz alta e a contação de histórias são práticas que devem estar presentes na escola

Débora Rubin e Claudia Jordão

Em um contexto de pouca valorização da leitura, como a escola pode contribuir para a formação de leitores no Brasil? Como superar seus desafios e formar leitores autônomos que gostem de ler? Ensinar algo tão grandioso é uma tarefa desafiadora, mas, talvez por isso mesmo, uma das mais fantásticas que existem.
O estímulo à leitura pode começar desde cedo, ainda na educação infantil. Veja abaixo o cenário da formação de leitores na primeira infância, seus desafios e exemplos de práticas.

Cenário

A Academia Americana de Pediatria recomenda aos médicos que orientem os pais a lerem para os seus filhos. Desde o nascimento, a superestimulação tem se tornado uma constante em casa e invadido o espaço escolar. Livros no banho e e-books são elementos cuja proposta é desencadear o gosto pela leitura logo cedo. O equilíbrio entre inseri-los na cultura letrada e "forçar" funções para as quais ainda não estão preparados, defendem os especialistas, depende de bom senso.


Desafio

Como mediadores, pais e educadores têm a missão de apresentar os livros, as histórias e o mundo da imaginação a seus filhos e alunos. A falta de materiais de trabalho nas escolas é um problema a ser enfrentado. Pesquisa da pedagoga Cyntia Girotto revela que os livros do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) não contemplam crianças dos 0 até os 3 anos. O estudo "Literatura e Primeira Infância: dois municípios em cena e o PNBE na formação de crianças leitoras" foi realizado de 2011 a 2014 em Presidente Prudente e Marília, interior paulista. "Negar o acesso desse material aos pequenos é negar a eles a possibilidade de forjarem para si, desde a tenra infância, uma identidade leitora", diz Cyntia, professora na Faculdade de Filosofia e Ciências da Unesp-Marília.


Exemplos de práticas

O primeiro passo é o professor ter um critério para a escolha dos títulos. Afinal, nessa fase pré-alfabetização eles têm especificidades e mudam conforme a idade. "O livro do bebê é especial: tem de ser cartonado, ou emborrachado, e o texto imagético deve se agregar ao texto escrito, o que aguça as percepções, atenção, linguagem oral e memória", explica Cyntia Girotto. A partir dos 3 anos, obras que se utilizam do lúdico e da fantasia despertam a imaginação. A leitura em voz alta e a contação de histórias são práticas que devem estar presentes na escola. Para as crianças maiores, vale investir em rodas de leitura e na elaboração de ilustrações ou dramatizações a partir de um texto. "Quando partilhada, a leitura se torna saborosa, se transforma em uma experiência formadora", defende Gilda Carvalho, mestre em Literatura Brasileira e uma das autoras do Manual de reflexões sobre boas práticas de leitura (Editora Unesp).

Saiba como lidar com cyberbullying na sala de aula


Jornalista americana escreve sobre como professores podem ajudar a acabar com esse comportamento

Bullying não é um assunto novo. No entanto, na era digital, ele ganhou uma nova cara. E se, para os educadores, já é difícil combater o bullying na sala de aula, o que podem fazer então quando ele é praticado no meio virtual? Uma jornalista norte-americana escreveu um artigo sobre como os professores podem trabalhar com os alunos em casos como esses e evitar que essas atitudes se repitam.

No texto para o site Edutopia, Amy Williams diferencia o bullying nas mensagens privadas daquele que é praticado diretamente nas redes sociais. Segundo o artigo, um a cada cinco adolescentes será vítima de bullying via mensagem de texto nos Estados Unidos. Nesse meio, muito utilizado por jovens, é mais fácil para o agressor manter o anonimato - o que frequentemente torna o ato ainda mais violento.

Uma outra forma de cyberbullying é a disseminação de imagens humilhantes, segredos ou mentiras sobre alguém, facilitada por grupos no WhatsApp ou aplicativos como o Secret. Já em publicações nas redes sociais, o bullying é mais explícito, e por isso tem mais chance de ganhar grandes proporções. De acordo com a autora, 95% dos adolescentes foram testemunhas de bullying virtual usando as redes sociais.

Estima-se também que, entre os casos de agressão no ambiente escolar, cerca de 40% não são reportados. Tendo isso em vista, Amy frisa da importância de incentivar a voz das vítimas e das testemunhas.

Para compreender e evitar estas práticas, um educador precisa entender os motivos que levam às agressões. Entre as respostas dos praticantes, 58% consideraram que faziam aquilo pois a vítima merecia, 58% para vingar-se, 28% para se entreter, 21% para constranger a vítima, 14% para ser maus e 11% apenas para se exibir para os amigos. Por isso, o artigo recomenda que, ao mesmo tempo em que se dá atenção à vítima, que o educador dialogue com a criança autora da agressão, tentando desconstruir suas razões.

 

Como os vídeogames têm sido usados na educação

Seja pelo uso do jogo em sala de aula, ou pela sua lógica aplicada a atividades pedagógicas, os videogames ultrapassaram a barreira do entretenimento e ganharam as escolas

Durante muito tempo, os videogames foram vistos apenas como entretenimento. Um tipo de diversão que muitas vezes ganhou destaque apenas com foco no conteúdo violento de alguns jogos. Nos EUA, a proliferação dos games levou políticos de projeção, como a ex-primeira-dama Hillary Clinton, a culpar os jogos por "roubar a inocência de nossas crianças". Essa percepção, no entanto, vem se modificando e muitos educadores defendem a incorporação dos jogos eletrônicos, ou ao menos de sua lógica, à sala de aula.
Uma das principais pesquisadoras do tema no Brasil, Lynn Alves, da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), afirma que a imersão provocada pelo videogame e as possibilidades narrativas permitem ao aluno quebrar a rigidez do ambiente escolar e lidar de maneira lúdica com os temas do currículo. Para que isso funcione, no entanto, o game não pode perder justamente as características que atraem tantos usuários. “O jogo não pode se transformar num livro eletrônico. Se isso acontecer, o objetivo se perdeu”, aponta.
Veja abaixo exemplos de como os games podem ser incorporados ao projeto pedagógico.
 
 
No preparo das suas aulas de educação física, Archimedes de Moura Junior, professor da rede estadual de São Paulo, sempre trazia sob o braço o tapete de dança, acessório para o Playstation 2, que aplicava com os alunos. Posteriormente, adaptou para a classe o Quadribol, modalidade esportiva dos bruxinhos da série Harry Potter. Com videogame e TV próprios, Archimedes deixava que estudantes da 4ª série do ensino fundamental jogassem dois minutos do game Harry Potter: Quidditch World Cup e, na aula seguinte, os conhecimentos adquiridos na tela eram colocados em prática na quadra, com direito a chapéu de bruxo e acessórios. O projeto deu tão certo que, no ano seguinte, integrou-se a outras disciplinas, que passaram a abordar os livros da autora da série Harry Potter, J. K. Rowling, inspiradas pelas aulas de educação física.
 
 
Na Escola Municipal Antônio Euzébio, em Salvador, as crianças passaram a usar o game Búzios: ecos da liberdade como auxílio nas aulas de história e cultura afro – o enredo do jogo trata da Revolta dos Alfaiates no final do século XVIII. Antes, porém, os professores tiveram de entender e manusear o jogo. “Aqueles professores que tinham a visão de que o videogame era só brincadeira passaram a entender as possibilidades”, afirma a coordenadora Nohara Vanessa Goes. Na prática, conta Nohara, a presença dos games começa a mudar alguns comportamentos. Para estudar a abolição da escravatura dentro da aula de informática, por exemplo, o normal seria os alunos pesquisarem no Google ou na Wikipedia – hoje já podem usar um jogo como o Búzios, em que a imersão na história desperta mais identificação e sentido.
 
 
Algumas escolas não utilizam os jogos em si durante as aulas, mas se aproveitam de algumas características dos games. Com a chamada “gamificação”, estratégia de ensino que combina desafios, competição e recompensas, a lógica dos jogos eletrônicos começa a ser vista por muitas instituições como um recurso para motivar os alunos e tornar o estudo mais atraente. Uma das primeiras redes de ensino no Brasil a trabalhar com a ideia dos jogos na educação, a Positivo começou a utilizar esse recurso há 15 anos, inicialmente com o chamado edutainment (softwares que buscavam o equilíbrio entre ensino e entretenimento).
A empresa possui a plataforma adaptativa Aprimora, que utiliza recursos como pontuação para incentivar o aluno. Apesar de defender o uso desse tipo de tecnologia, Parahuari Branco, diretor de pesquisa, desenvolvimento e inovação da divisão de tecnologia educacional da Positivo Informática, diz que é “preciso preparar de forma adequada o professor, que deve adotar um novo papel nesse processo, atuando como um direcionador das discussões”.
 
Fonte: Revista Educação

10 filmes para repensar a educação

Produções nacionais e internacionais mostram inovação nas salas de aula

Mais do que entreter, alguns filmes têm o poder de inspirar. Ainda mais quando o assunto é educação. Produções nacionais e internacionais vão além do questionamento do modelo tradicional de ensino e convidam para uma reflexão sobre o papel do professor, do aluno e do sistema educacional. Prepare a pipoca - e um caderninho de anotações -, e confira os dez filmes que selecionamos sobre o tema:


1. Quando sinto que já sei

Custeado por meio de financiamento coletivo, o filme registra práticas inovadoras na educação brasileira. Os diretores investigaram iniciativas em oito cidades brasileiras e colheram depoimentos de pais, alunos, educadores e profissionais.

Duração: 78 minutos
Ano de lançamento: 2014 (Brasil)
Direção: Antonio Sagrado, Raul Perez e Anderson Lima
 
2. A Educação Proibida

Gravado em oito países da América Latina, o documentário problematiza a escola moderna e apresenta alternativas educacionais em mais de 90 entrevistas com educadores. O filme é independente e foi financiado de forma coletiva.

Duração: 145 minutos
Ano de lançamento: 2012 (Argentina)
Direção: German Doin e Verónica Guzzo 

3. Pro dia nascer feliz

O filme mostra o cotidiano permeado de desigualdade e violência de jovens de quatro escolas públicas brasileiras, em Pernambuco, São Paulo, Duque de Caxias e no Rio de Janeiro.

Duração: 89 minutos
Ano de Lançamento: 2006 (Brasil)
Direção: João Jardim

4. Além da sala de aula

Baseado em fatos, o filme narra a trajetória e os desafios enfrentados por uma professora recém-formada em uma escola temporária para sem-tetos nos Estados Unidos.

Duração: 95 minutos
Ano de lançamento: 2011 (EUA)
Direção: Jeff Bleckner

5. Sementes do nosso quintal

A infância é o tema central do documentário, que foca no cotidiano da Te-Arte, uma escola infantil inovadora que foca no estímulo da criatividade infantil, e na trajetória da idealizadora Thereza Soares Pagani.

Duração: 115 minutos
Ano de lançamento: 2012 (Brasil)
Direção: Fernanda Heinz Figueiredo

6. Quando tudo começa

Em meio à miséria e à indiferença do governo francês, um professor de uma escola pública se envolve com as situações vividas pelas famílias das crianças e protesta contra as políticas sociais do país.

Duração: 117 minutos
Ano de lançamento: 1999 (França)
Direção: Bertrand Tavernier

7. Paulo Freire - Contemporâneo

Entrevistas com familiares, pedagogos e o próprio Paulo Freire apresentam o pensamento e a atemporalidade do método de alfabetização do educador.

Duração: 52 minutos
Ano de lançamento: 2006 (Brasil)
Direção: Toni Venturi

8. Tarja Branca
Tratado com seriedade, o direito de brincar é o tema deste documentário, que aborda o conceito de "espírito lúdico" e convida para a reflexão do desenvolvimento do homem adulto.

Duração: 80 minutos
Ano de lançamento: 2014 (Brasil)
Direção: Cacau Rhoden

9. Entre os muros da escola

Uma sala de aula na periferia de Paris simboliza o choque cultural presente na França contemporânea: François Marin, um professor francês, busca formas de se aproximar de seus estudantes asiáticos, africanos, árabes e franceses. O longa é baseado no livro homônimo de François Bégaudeau, protagonista da narrativa.

Duração: 130 minutos
Ano de lançamento: 2008 (França)
Direção: Laurent Cantet

10. Mitã

Educação, espiritualidade, tradição e cultura da criança se misturam na narrativa, inspirada pelos pensamentos de Fernando Pessoa, Agostinho da Silva e Lydia Hortélio.

Duração: 52 minutos
Ano de lançamento: 2013 (Brasil)
Direção: Lia Mattos e Alexandre Basso


 

Coordenador pedagógico: como superar os desafios

1. Formação continuada
■ Estar aberto ao diálogo
■ Levantar questões junto aos docentes
■ Instituir devolutivas como uma constante
■ Abandonar a "fiscalização" de salas de aula
■ Dar palavra aos professores durante reuniões
■ Destacar os acertos para só então tratar dos problemas
■ Fundamentar teoricamente suas observações
■ Definir os instrumentos que vão guiar o seu acompanhamento
■ Ajudar os professores na reflexão de sua prática, com atitude parceira
■ Variar as formações com temas que extrapolem o âmbito pedagógico

2. Relação com as famílias
■ Entender a lógica das famílias: para muitas, ainda há uma visão distorcida dos papéis da escola
■ Evitar situações de embate
■ Trabalhar educativamente, também com os adultos
■ Trazer a família para o centro da escola
■ Envolver os pais em eventos relacionados aos projetos desenvolvidos em sala de aula
■ Aproximar a família dos processos de aprendizagem das crianças
■ Ter abertura para escutar, mas nunca ferir o projeto pedagógico da escola
■ Apresentar o PPP na primeira reunião e cada ciclo

3. Avaliação externa
■ Relativizar os resultados - eles não são uma sentença final
■ Levar as informações aos professores, mas ao mesmo tempo escutá-los
■ Escapar da lógica do ranqueamento e da padronização
■ Articular ações que fortaleçam práticas pedagógicas que promovam a autonomia e a criatividade
■ Buscar caminhos próprios com a equipe
■ Estimular a gestão democrática

4. Lidar com a direção
■ Manter um bom relacionamento interpessoal, lembrando que a equipe gestora não tem posições iguais
■ Buscar posições coincidentes sobre a importância de ensinar e aprender e do papel da escola
■ Estar aberto ao diálogo, respeitando as diferentes funções
■ Valorizar o trabalho dos outros membros da equipe

Os 4 principais desafios do coordenador pedagógico

Apesar de estar ganhando espaço na escola, o coordenador pedagógico ainda tem de lidar com desafios que testam seus limites todos os dias. Saiba como trabalhar com a pressão e superar esses obstáculos

Luciana Alvarez

Articulador do projeto pedagógico, formador do corpo docente, transformador do ambiente escolar. Em sua função plena, o coordenador pedagógico se assemelha a um regente: conduz a orquestra com gestos claros e instiga um intenso senso de união entre seus pares. Mas a realidade nas escolas brasileiras ainda desafina. Sem plano de carreira específico, sem formação adequada, com demandas diversas que o desviam da função, o coordenador pedagógico enfrenta, ainda, diversos tipos de pressão.

A formação docente, que deveria estar no centro de suas funções de articulador, é relegada a segundo plano pela falta de tempo e planejamento. A relação com a família, vitrine do projeto pedagógico da escola, sofre com mal-entendidos gerados por estereótipos consagrados. Os resultados de avaliações externas pressionam por resultados imediatos do trabalho cotidiano, que muitas vezes precisa ser regido em outro tempo. E o modelo de gestão escolar, se não é descentralizado, gera inevitáveis desgastes com a direção da escola. Coordenadores pedagógicos e especialistas em educação descortinam esses cenários e propõem possíveis caminhos de escape para essa panela não explodir. A conclusão é a de que, com diálogo, trabalho em equipe e clareza de funções, é possível, sim, afinar a orquestra.

Desvio de função

A boa notícia é que, apesar de tantos problemas persistentes, a identidade desse profissional está cada vez mais fortalecida e seu papel dentro da escola vem ganhando reconhecimento. Mas, afinal, qual cenário tem levado os coordenadores a estarem em um ambiente tão complexo?

Nos documentos legais e nos estudos acadêmicos, a discriminação das funções do coordenador pedagógico é muito clara, mas a prática é bem diferente do que o descrito no papel, explica Vera Placco, professora da pós-graduação em psicologia da educação na PUC-SP e uma das organizadoras da coleção O coordenador pedagógico (Editora Loyola).

Para a professora, o fato de as demandas do próprio sistema de educação, dos diretores, dos pais e alunos serem diferentes acaba contribuindo para desviar o coordenador de sua função original. "Uma escola tem sempre urgências, e o coordenador pedagógico acaba solicitado nesses momentos. Há um descompasso muito grande, com demandas contraditórias", afirma.

A falta de clareza do próprio coordenador sobre suas responsabilidades ajuda a acentuar o desvio de sua prática profissional. "A própria não formação faz com que, às vezes, o coordenador não tenha certeza de como desempenhar seu papel. Ele não se sente seguro e acaba se dedicando a outras tarefas", diz Vera.

A falta de formação específica para o cargo seria, então, o primeiro obstáculo a ser superado. A formação inicial dos cursos de pedagogia - que seria o momento mais indicado para entrar em contato com as atribuições desse profissional - mal toca na questão. O coordenador se vê diante do desafio de buscar sua própria formação teórica, sob a necessidade de se especializar constantemente. Experiências práticas na sala de aula também são importantes, mas sabe-se que nem todo bom docente se torna um bom coordenador. "Um professor da escola que assume a função de coordenação muitas vezes não teve em seu percurso formativo algo que lhe permita ver a necessidade de interlocução com a comunidade. Isso é essencial para o trabalho", afirma o professor Guilherme Prado, da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Mas, afinal, qual a sua função?

Prado acredita que o centro do trabalho do coordenador pedagógico seja potencializar o repertório dos professores a favor da aprendizagem das crianças e jovens. "O trabalho se dá a partir da interlocução das necessidades da comunidade que a escola atende, com as necessidades formativas daqueles professores e as exigências do currículo", define.

Vera defende que o profissional tenha perfil apoiado em três pilares: ser um formador, um articulador e um transformador. Formador porque vai ajudar o corpo docente a se aprimorar. "Para ser um formador e ajudar o professor a lidar com seu próprio conhecimento é preciso entender de didática e metodologias. Mas não precisa ser especialista em física para discutir com o professor de física sobre como ajudar os alunos a aprenderem mais", exemplifica. O coordenador deve ainda articular as pessoas, os processos de aprendizagem e o projeto pedagógico da escola.

Por fim, o caráter transformador visa incentivar - ou até mesmo provocar - a todos na escola a buscarem avançar constantemente. "É uma questão de atitude, que tem a ver com uma visão de educação, de sociedade e de pessoas, que implique reconhecer que estamos sempre em mudança. O coordenador deve cutucar o professor - porque fazer a mesma coisa no ano seguinte é um retrocesso", afirma Vera.

Batalha pela carreira

Por ser, na maior parte das vezes, uma função assumida por um professor, o coordenador muitas vezes sofre por não ter uma carreira específica. No sistema estadual do Rio de Janeiro, por exemplo, até 2011 nem sequer a função de coordenador estava regulamentada - os diretores escolhiam de maneira informal algum professor de sua confiança para assumir o papel. Mesmo instituída nas redes públicas, a questão da carreira, de forma geral, continua mal resolvida, também na rede particular. "Por não ter garantia, o coordenador fica numa posição frágil, sem certeza de continuidade, sem saber se vai estar lá amanhã", afirma Cecilia Hanna Mate, docente da Faculdade de Educação da USP. Para ela, essa é uma questão trabalhista que acaba se refletindo nos processos de ensino-aprendizagem da escola. "Mas mesmo na precariedade, há coordenadores que abraçam sua função e fazem um trabalho excelente", ressalta.

A carreira do coordenador pedagógico deveria ser atraente, com previsão de formação continuada, e reconhecida pelos seus pares. "É preciso uma mobilização dos professores pela valorização do trabalho do coordenador. A função precisa ser cuidada porque é fundamental", defende. Cecília lembra que, quando começou sua carreira nos anos 80, os professores faziam suas aulas sozinhos, sem nenhum auxílio. O que se tem hoje, com horários de reunião previstos na semana de trabalho, embora ainda insuficiente, representa um avanço enorme.

A negligência de muitas escolas em olhar para esse papel importante contribui para a distorção da função. "Quanto mais a escola tiver um projeto político pedagógico bem construído, mais alinhavado, mais claros os papéis de cada ator - e mais interessantes os resultados", avalia.

E quanto mais democrática for a escola, maior a necessidade de um bom coordenador pedagógico, acredita Luiza Christov, professora do Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (Unesp). "Nos anos 70 já havia um profissional com nome semelhante, mas era outra concepção. Ele era um técnico que preparava apostilas, nada era discutido. O coordenador se faz necessário sob uma perspectiva democrática de escolas, em que ela vai sendo construída por professores, alunos, pais, funcionários."

Um novo lugar

Assim, é a partir dos anos 80, com o processo de redemocratização depois da ditadura militar, que esse profissional começa a conquistar o seu lugar. Desde então, os documentos oficiais dos sistemas escolares insistem na construção coletiva do projeto de escola. Segundo Luiza, na equipe de gestão, o diretor deve garantir as condições de infraestrutura, e os coordenadores devem promover o desenvolvimento das reflexões sobre a aprendizagem.

Mas embora a necessidade da gestão democrática seja conhecida e debatida há três décadas, o desafio prático ainda se faz presente, sobretudo quanto a se criar um tempo para encontros e elaborações coletivas, pois elas exigem "negociações, enfrentamento de conflitos, superação de vaidades e cultivo da escuta". E mesmo escolas que foram concebidas de forma democrática têm de continuar cuidando de seus espaços coletivos, para atualizar suas práticas, currículos e gestão. "A escola é movimento sempre", lembra Luiza.

O resultado é que, quando os obstáculos são superados, todos se beneficiam. Como um efeito cascata, funcionários e professores que são ouvidos estarão mais predispostos a ouvir seus alunos dentro da sala de aula, promovendo um aprendizado mais dialogado e significativo. Alunos mais ouvidos por professores e gestores tendem a participar de forma mais construtiva, sentindo-se de fato pertencentes à escola.

Nesse sentido, entra a questão da reorganização dos tempos escolares, para que o coordenador possa estar junto dos professores, tanto individual quanto coletivamente, de forma tranquila, que possibilite uma reflexão aprofundada. O imediatismo das respostas aos sistemas, a burocratização dos documentos e das ações, a hierarquização das relações e as condições precárias de trabalho acabam tomando grande parte dos tempos que seriam destinados à construção coletiva do currículo e projeto de escola, afirma a professora da Unesp.

Por fim, todos os coordenadores deveriam também ter um acompanhamento à sua disposição. "Os coordenadores cuidam dos professores, mas precisam de alguém que cuide deles", defende Luiza. Esse olhar próximo seria tanto para lhes cobrar ações, quanto para auxiliá-los - assim como eles devem fazer com os professores.

Embora o caminho seja longo, os que estudam o tema reconhecem que nessas três décadas de lutas por uma escola democrática, os coordenadores pedagógicos acumulam inúmeras conquistas. Mesmo em face de tantas adversidades, os coordenadores normalmente se mostram um grupo interessado e dedicado, observa Vera Placco, da PUC. "O que vejo é que os coordenadores querem se aperfeiçoar, pesquisar, ir para a prática. Eles estão cada vez mais preocupados, reivindicando mais espaços e formação para si próprios", relata. A batalha tem se mostrado longa, mas a maioria segue disposta a lutar.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Como falar de morte para a criança? A dor infantil...

Rosangela Nieto de Albuquerque

Certamente esse assunto é bem complexo e delicado para pais e escola trabalharem com as crianças, pois envolve crença, religião, maturidade e questões emocionais. Os pais tentam evitar que seus filhos sofram, e, quando ocorre algum caso de morte na família, as crianças pequenas costumam ser deixadas à parte do assunto, pois, acreditase, não possuem maturidade suficiente para entender o que aconteceu.

Segundo Freud, em sua obra Nós e a Morte:
Nós, criaturas civilizadas, tendemos a ignorar a morte como parte da vida... no fundo ninguém acredita na própria morte nem consegue imaginá-la. Uma convenção inexplícita faz tratar com reservas a morte do próximo. Enfatizamos sempre o acaso: acidente, infecção, etc., num esforço de subtrair o caráter necessário da morte. Essa desatenção empobrece a vida...

A dificuldade de abordar o assunto com as crianças está diretamente relacionada à negação do próprio adulto em lidar com a morte. Para Freud, o homem percebe que sua preocupação com a questão da morte tem base não apenas no declínio da condição biológica, mas também está fortemente calcada na questão da guerra e sua capacidade destrutiva além da morte.

A propósito, Freud chama a atenção para o fato de que nossa atitude civilizada perante a morte é muito irreal e que “vivemos psicologicamente acima de nossos meios”, enquanto deveríamos conceder um espaço maior em nossas vidas para a morte, para que a vida se tornasse suportável conscientemente, embora sabendo de sua finitude e de suas consequências.

A morte cerca o nosso mundo, e a criança percebe isso. Ela vê, escuta e sabe o conceito do que é acabar. As perguntas sobre a morte iniciam-se por volta dos 5 anos. A notícia da perda deve ser dada de forma direta, não importa a idade da criança, utilizando-se a palavra morte e deixando claro que se trata de um acontecimento irreversível.

Na tentativa de proteção emocional da criança, muitos pais ocultam ou procuram disfarçar o tema com o intuito de poupar os pequenos do sofrimento e, muitas vezes, optam por não falar no assunto, o que poderá causar uma série de traumas em crianças que perderam algum ente querido. Na verdade, uma boa comunicação com a criança certamente contribuirá para a superação da perda.

É comum as famílias utilizarem eufemismos — como “Vovô está vivo em outra dimensão”, “Mamãe foi morar com papai do céu”, “Totó foi para o paraíso dos cachorrinhos”, “Fulano virou estrelinha” ou “Foi viajar” — na tentativa de amenizar o sofrimento e articular a compreensão da criança; isso, no entanto, poderá criar expectativas de que a pessoa irá voltar.

É importante enfatizar que, se conversarmos com a criança de forma sincera e simples, permitindo seu luto, certamente oportunizaremos o seu desenvolvimento de aceitação da perda. A não exposição da verdade levará à quebra da confiança, pois, à medida que a criança for crescendo, perceberá que não era verdade o que contaram para ela.

Os pais ou responsáveis devem abordar a questão da morte com delicadeza e sutileza, contextualizando a realidade. É importante explicar com exemplos concretos — respeitando a idade da criança, fazendo uma relação com a vida —, dizendo, por exemplo, como acontece com a planta, que nasce, cresce e depois morre.

O ocultamento da verdade ou a suavização ao falar da morte pode deixar a criança confusa. Segundo Célia Maria Ferreira da Silva Teixeira, inventar argumentos pode constituir algo “desastroso”. À medida que a criança cria fantasias acerca do retorno do ente querido, ela poderá ter pensamentos autodestrutivos, acreditando que, se morrer, poderá se juntar a ele.

A relação de compreensão da morte pelas crianças

Uma criança de 2 anos, ainda vivenciando as representações, a fantasia, a imaginação e os pensamentos mágicos, pode pensar que não existe finitude, pois, através de sua capacidade imaginativa, aquele ente querido poderá voltar, assim como acontece nos contos infantis. Em sua fantasia e imaginação, é capaz de atribuir vida ao morto, consequência do animismo infantil; para ela, a morte é algo impossível e abstrato.

As crianças de até 3 anos não conseguem perceber claramente que a morte é definitiva e irreversível, mas entendem que essa perda ocasionará a ausência das brincadeiras com aquele ente que morreu. As mais velhas percebem que a morte é algo natural, mas precisam de explicações concretas para entender como a pessoa que morreu não vai mais estar entre nós.

A morte é compreendida por uma criança a partir dos 5 anos, conforme o seu desenvolvimento cognitivo, no que tange à possibilidade de assimilar a irreversibilidade e a noção desse conceito. Assim, as reações de uma criança diante da morte dependerão também do seu desenvolvimento psicológico. Além disso, crianças muito pequenas não percebem a morte como definitiva e irreversível, somente por volta dos 10 anos é que são capazes de reconhecer a morte como algo finito e de degeneração do corpo.

A partir dos 7 anos, período em que a criança começa a aumentar as relações e os vínculos sociais (na escola, principalmente), passa a sentir mais intensamente as perdas fora do círculo familiar. Assim, com a possibilidade de compreender as questões infralógicas e assimilar os processos de reversibilidade e irreversibilidade, ela passa a compreender melhor a morte e é possível falar mais abertamente sobre o assunto. Portanto, é a partir dos 12 anos que todo o processo de morte pode ser entendido pela criança. Dar oportunidade à criança de participar do luto familiar será importante; levar em conta o desenvolvimento psicoafetivo e a idade da criança irá possibilitar o entendimento sobre a perda.

Como abordar o tema em sala de aula?

A melhor maneira de a criança entender o que é a perda é explicar de uma maneira lúdica. O professor deve contar a verdade e estar preparado para as múltiplas perguntas, por exemplo, “Para onde ele foi?”, “Com quem estará?”. Nesse momento, o professor deverá usar a criatividade, poderá utilizar a técnica de contação de histórias — há vários livros que abordam o assunto —; nessa hora, o simbolismo é fundamental.

Segundo Bromberg, quem enfrenta a tristeza de uma morte vivencia o luto até a perda ser “aceita”. Para auxiliar a enfrentar essa fase, é preciso falar com sinceridade. Respostas fantasiosas tendem a prolongar o sofrimento.

É uma coisa curiosa, a morte [...] Todos nós sabemos que o nosso tempo neste mundo é limitado e que eventualmente todos nós acabaremos embaixo de algum lençol para nunca mais despertar. E, no entanto, é sempre uma surpresa quando isso acontece com alguém que conhecemos. Lemony Snicket Embora as crianças pequenas ainda não compreendam inteiramente a ideia de morte, o assunto deve ser discutido na escola para que elas tenham a oportunidade de trocar opiniões com os colegas e também de encontrar apoio para encarar o sofrimento.

Em geral, o ponto crítico se dá com a morte de um familiar ou de uma pessoa próxima, mas também pode ocorrer em casos como a separação dos pais, a morte de uma personalidade famosa e até uma mudança brusca, como a troca de cidade ou de escola. Todas essas situações geram dificuldades para as crianças.

Para Torres, como o comportamento das pessoas ao redor interfere no enfrentamento das perdas, uma intervenção adequada no momento certo é de grande importância, podendo ajudar no encaminhamento do luto e no restabelecimento das condições emocionais dos pequenos.

O principal requisito para uma atuação eficaz é se apoiar na verdade. Afinal, uma informação distorcida pode interferir na conscientização da perda e na sua aceitação. “A morte faz parte do processo da vida.”

Morin enfatiza a importância da discussão do tema na escola, que certamente ajudará a lidar com a situação. É preciso levar em conta diversos fatores que dizem respeito principalmente à fase de desenvolvimento em que cada criança se encontra e ao ambiente que a cerca. Trabalhar otema em sala de aula não é nada fácil, deve-se respeitar as escolhas da família e da criança, considerar sua faixa etária, mostrar a dimensão cultural da morte e minimizar os efeitos do luto no aprendizado. É normal que as crianças apresentem explicações para a morte baseadas na religiosidade, nas crenças e na cultura da família. O professor deve aceitar a argumentação, mas, se for indagado sobre o ocorrido, seu papel é responder da maneira mais objetiva — a ideia é ajudar o pequeno a se conscientizar da perda.

Por mais que seja difícil, é preciso mostrar a morte como algo inevitável. Essa postura deve ser explicitada nas conversas com os pais — em encontros, reuniões —, portanto, é preciso considerar que os próprios familiares, fragilizados, apresentem dificuldade em lidar com a questão. A escola deve se aproximar, oferecer ajuda, promover a humanização, pois a criança passa grande parte do dia no ambiente escolar; talvez ela encontre respostas primeiramente na escola, pois a família está fragilizada. A escola, ao perceber que as dificuldades emocionais estão exageradas, então, deverá orientar o acompanhamento de um profissional da Psicologia.

É inegável que devemos considerar a faixa etária de cada aluno. Desde pequena, a criança já entende a ideia da morte — o que muda ao longo dos anos é a concepção dela sobre a perda. Até os 5 anos, a criança considera a morte reversível, pois sua noção de irreversibilidade ainda não está maturada. Depois, começa a entender a finitude, mas ainda não a concebe como universal — acha que ela não pode vir para alguém jovem, por exemplo. Nesse sentido, a participação em rituais como velórios e enterros, ainda que dolorosa, é importante para auxiliar na complexa construção do que significa a morte.

Para Kübler-Ross, é importante que a escola mantenha um diálogo aberto com a família e a criança, num processo dialético, pois precisam de alguém em quem confiem e que lhes dê a abertura para falar, questionar e até pedir apoio emocional. Trabalhar com a classe irá ajudar no acolhimento da criança, e é comum que os colegas se abatam também, pois acabam se identificando. “Compreender o que está se passando com a classe e com a criança enlutada é necessário para auxiliar o professor a lidar com a dinâmica da sala.”

A preocupação com o desempenho escolar é fundamental. Com um trabalho em equipe multidisciplinar, professores, coordenadores, diretores, psicólogo escolar, educadores, etc., juntos, devem buscar alternativas didáticas (técnicas metodológicas diferenciadas) para auxiliar no desenvolvimento da aprendizagem nesse período. Naturalmente, em sala de aula, as crianças reagem de maneiras diversas: choro, sonolência, dificuldade de concentração e desinteresse, entre outros comportamentos, são maneiras de mostrar o momento de dor e que a situação não é fácil.

O papel da escola

A relação direta da escola com a família é essencial. É comum professores não saberem como agir no dia a dia em sala de aula, nas festividades e no período do Dia das Mães ou Dia dos Pais. O caminho a percorrer é conversar sobre os sentimentos da criança.

Não há regras impostas, cada criança tem uma sensibilidade diferente; o importante é o círculo de convívio afetivo dela — pais, irmãos, colegas, professores, educadores devem participar do luto com a criança. Não há tempo previsível para o término do luto. O fato é que, quando se lida bem com ele, ele passa. Ao perceber-se acolhida, a criança amadurece com mais facilidade, a ideia da perda se constitui num significado da vida, e, aos poucos, volta-se à rotina. Claro que podem ocorrer recaídas. Passado certo tempo após a elaboração do luto, é comum que ela relembre a morte e retome alguns sentimentos de tristeza intensa. Essa situação pode ser mais ou menos marcante, de acordo com a superação do luto. Certamente, o trabalho em conjunto com a família ajuda a superar a crise com mais facilidade, principalmente quando envolve crianças muito pequenas.

Assim como os adultos, as crianças passam pelo processo de luto, que tem diversas fases: inicialmente é a negação, fase de muitas perguntas; posteriormente, uma tristeza profunda; e, em seguida, a aceitação. Portanto, se após uma perda a criança ficar mais agressiva ou isolada, chorar à noite antes de dormir ou apresentar comportamento regressivo, estes são comportamentos normais. Os educadores devem ficar alertas: em caso de exagero de tristeza, encaminhar a criança para acompanhamento psicológico é primordial.

Referências bibliográficas

ÁRIES, P. História da Morte no Ocidente. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.

BROMBERG, M. H. P. F. Ensaios sobre Formação e Rompimento de Vínculos Afetivos. Taubaté: Cabral. Editora Universitária, 1998.

FREUD, Sigmund. Luto e Melancolia. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Vol. XIV, Imago. Rio de Janeiro, 1914 – 1916.

KÜBLER-ROSS, E. Sobre a Morte e o Morrer. 8. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

MORIN, E. O Homem e a Morte. Rio de Janeiro: Imago, 1997.

TORRES, N.C. O Conceito de Morte na Criança. Arquivos Brasileiros de Psicologia. Out./dez., 1979, 31 (4): 9–34.

5 pontos para abordar a morte em sala de aula

Acolher as inquietações de cada um e responder às dúvidas com explicações verdadeiras é um caminho para auxiliar a superar uma perda

Bianca Bibiano (novaescola@fvc.org.br)
 
"É uma coisa curiosa a morte (...). Todos nós sabemos que o nosso tempo neste mundo é limitado e que eventualmente todos nós acabaremos embaixo de algum lençol para nunca mais despertar. E, no entanto, é sempre uma surpresa quando isso acontece com alguém que conhecemos." Reflita por alguns instantes sobre como você se sentiu ao ler essa citação do autor infanto-juvenil Lemony Snicket, no livro Raiz-Forte. Quais sentimentos preveleceram: medo? Resignação? Indignação? Identificação? A resposta depende da maneira como cada um lidou (e lida) com as inevitáveis perdas que a vida nos traz - a de um amigo que se mudou para longe, o desaparecimento de um animal de estimação ou a morte de um parente querido. Sempre que um desses eventos ocorre, passamos pela chamada elaboração do luto - um processo psicológico que atinge o indivíduo, sua família e os grupos da sociedade dos quais ele participa, um período doloroso (e necessário) de intensa tristeza, que dura até que a pessoa aceite a perda e possa seguir em frente com a vida.
Embora as crianças (sobretudo as mais novas) ainda não compreendam inteiramente a ideia de morte, o assunto deve ser discutido na escola para que elas tenham a oportunidade de trocar opiniões com os colegas e também encontrar apoio para encarar o sofrimento. A origem da crise, em geral, se dá com a morte de um familiar ou de uma pessoa próxima, mas também pode ocorrer em casos como a separação dos pais, a morte de uma personalidade famosa e até de uma mudança brusca, como a troca de cidade ou de escola. Todas essas situações geram dificuldades para as crianças. Como o comportamento das pessoas ao redor interfere no enfrentamento das perdas, uma intervenção adequada no momento certo é de grande importância, podendo ajudar no encaminhamento do luto e no restabelecimento das condições emocionais dos pequenos.
Isso, entretanto, não significa que a discussão do tema na escola seja simples. Para ajudar a lidar com a situação, é preciso levar em conta diversos fatores, que dizem respeito principalmente à fase de desenvolvimento em que cada criança se encontra e ao ambiente que a cerca. Abaixo, você confere cinco pontos essenciais que devem ser considerados na hora de abordar a morte com suas turmas.

1. Respeitar as escolhas da família e da criança


"Mamãe foi morar com papai do céu", "Totó foi para o paraíso dos cachorrinhos", "Vovô está vivo em uma outra dimensão". É normal que as crianças apresentem explicações para a morte baseadas na religiosidade, nas crenças e e na cultura da família. Você, professor, deve aceitar a argumentação, mas, se for indagado sobre o ocorrido, seu papel é responder da maneira mais objetiva - não custa lembrar que a ideia é ajudar o pequeno a se conscientizar da perda (leia o quadro abaixo). "Por mais que seja difícil, é preciso mostrar a morte como algo inevitável", observa Maria Júlia Kovács, professora de Psicologia da Morte no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP).

Essa postura deve ser explicitada nas conversas com os pais - nesses encontros, aliás, é preciso considerar que os próprios familiares, fragilizados, apresentem dificuldade em lidar com a questão. "Como a criança passa grande parte do dia no ambiente escolar, é importante que ali ela encontre respostas que talvez não apareçam num primeiro momento em casa, por estarem todos abalados", comenta Valéria. A escola deve se aproximar, oferecer ajuda e, se preciso, buscar o auxílio de profissionais de Psicologia.

2. Considerar a faixa etária de cada aluno
Desde pequena, a criança já entende a ideia da morte - o que muda ao longo dos anos é a concepção dela sobre a perda. Até os 5 anos, a criança considera a morte reversível. Depois, começa a entender a finitude, mas ainda não a concebe como universal - acha que ela não pode vir para alguém jovem, por exemplo. "É somente por volta dos 10 anos que passamos a compreender a morte com mais clareza", explica Maria Júlia. Nesse sentido, a participação em rituais como velórios e enterros, ainda que dolorosa, é importante para auxiliar na complexa construção do que significa a morte.
 
3. Buscar um interlocutor próximo ao estudante
É importante que, quando a escola fica incumbida de contar sobre uma morte ou conversar sobre ela com o aluno, o diálogo seja estabelecido com alguém em quem confie e que dê a ele abertura para falar, questionar e até pedir apoio emocional. "Imagine que sensação horrível ele teria ao receber uma notícia ruim de um desconhecido ou de alguém com que teve pouco contato", diz Valéria.
 
4. Trabalhar a questão com a classe
A relação com a turma nesse momento é importante para ajudar no acolhimento do estudante. "Quando um aluno vive a perda significativa de alguém, é comum que os colegas se abatam também, pois acabam se identificando. Compreender o que está se passando com a classe e com a criança enlutada é necessário para auxiliar o professor a lidar com a dinâmica da sala", afirma Solange Capaverde, coordenadora do Projeto Solverde, da Universidade Federal de Santa Maria (UFS). Um dos caminhos é proporcionar debates sobre o tema. Vale orientar a classe e explicar o que o colega está vivendo e, quando ele retornar à escola, proporcionar situações em que possa falar e também ouvir opiniões e histórias dos outros alunos. Filmes e contos podem ser usados como porta de entrada para explorar a morte e o luto. Porém, antes de propor qualquer atividade, é importante saber se a criança enlutada está disposta a se abrir e a falar sobre isso.
 
5. Minimizar os efeitos do luto no aprendizado
Na medida do possível, é importante atentar para que o desempenho escolar do aluno não seja muito prejudicado pelo pesar. "O educador precisa saber que, logo após a morte, a criança pode não produzir como antes. Nos dias que seguem, é importante conversar para encontrar a melhor maneira de ele não perder o conteúdo", afirma Maria Júlia. Vale explicar quais atividades vão ser feitas e ouvir a opinião do aluno para saber se ele tem condições de desempenhá-las. O correto é sempre oferecer uma alternativa - o que não pode ocorrer é deixá-lo de lado (leia o quadro abaixo). "É comum que crianças reajam de maneiras diversas. O choro não é o único modo de manifestar o sentimento de perda. Às vezes, elas têm sonolência, dificuldade de concentração e desinteresse, entre outros comportamentos. Todos são maneiras de mostrar que a situação não é fácil", explica Valéria.

Pode ser que demore algum tempo, mas o fato é que o luto, quando bem elaborado, passa. Ao perceber-se acolhida, a criança amadurece com mais facilidade a ideia da perda e, aos poucos, volta à rotina. Claro que podem ocorrer recaídas. Passado certo tempo após a elaboração do luto, é comum que ela relembre a morte e retome alguns sentimentos de tristeza intensa. Essa situação pode ser mais ou menos marcante, de acordo com a superação do luto. Em todos os casos, o trabalho em conjunto com a família ajuda a superar a crise com mais facilidade, principalmente quando envolve crianças muito pequenas.