Dificuldades
para aprender
Neste fim de ano letivo, muitos pais se
preocupam com o
rendimento passado do filho. Há os que ficam bravos com baixas
notas, recuperação ou mesmo reprovação. Mas
há os que ficam apreensivos porque ouvem dos professores que seu
filho apresenta dificuldades de aprendizagem.
Deveríamos abolir essa expressão quando nos
referimos à vida escolar das crianças -e temos motivos para
tanto. O principal deles é que, por trás dessa frase, há
uma multiplicidade de sentidos sem muita coerência entre si.
Alunos com ritmos de aprendizagem diferentes dos
de seus
colegas, alunos dispersos, alunos com estilos específicos de
aprendizagem,
entre outros, costumam receber o diagnóstico de "dificuldade
de aprendizagem" para justificar o baixo rendimento escolar.
Como entender essa expressão maldita? Vamos nos
aventurar na missão possível de desconstruir essa frase
tão usada.
O primeiro passo é aceitar a ideia de que todos
temos dificuldades de aprendizagem. Por quê? Ora, porque
aprender
é trabalhoso e difícil e exige um reconhecimento fundamental:
o de que não se sabe. Só pode começar a aprender
quem admite que não sabe. E talvez um dos grandes problemas que
crianças e jovens do mundo atual enfrentam seja esse.
Tem sido cada vez mais difícil para eles admitir
que não sabem, que não conhecem, porque isso angustia e
incomoda.
E, em tempos de aparências, precisamos mostrar
que
sabemos muito, não é? Os mais novos logo percebem esse clima
e o incorporam em suas vidas.
A questão é que lidar com a angústia
de não saber não é fácil, então a melhor
saída tem sido rejeitar tal estado. E isso gera dificuldade de
aprendizagem, já que essa angústia é o que dispara
o aprendizado.
Quem tem filhos pode constatar esse fenômeno da
recusa
do desconhecimento ao observar quantas vezes as crianças repetem
a frase "Eu sei, mãe" ou "Eu já conheço,
pai".
O segundo passo para desconstruir a frase
"dificuldades
de aprendizagem" é o de reconhecermos também que o
mundo nos leva a sermos hiperativos e dispersos. Ora, isso gera
dificuldades
para aprender, já que esta é uma atividade que exige
concentração,
esforço e dedicação -mesmo que temporária-
a uma única coisa.
Além disso, os obstáculos que surgem têm
sido vistos como impedimentos, e não como desafios, por isso
preferimos
contorná-los a enfrentá-los.
Isso, sim, é um problema para muitas crianças
do mundo atual: parar, aquietar-se, lidar com a angústia de não
saber, se concentrar, perseverar para, então, aprender.
Por isso e por muito mais, em vez de pensar nas
"dificuldades
de aprendizagem", seria mais produtivo lhes oferecer meios para
que
se desenvolvam e ponham em prática seu potencial.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora
de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
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