São tantos na classe, mas cada um é um
Por trás de cada olhar que nos recebe no início do ano, há alguém singular em seu potencial. Por isso, toda turma é heterogênea
Começamos o ano planejando o trabalho com cada
turma, tendo por base a expectativa média sobre maturidade, habilidades e
conhecimentos anteriores dos futuros estudantes. No entanto, o previsto será
continuamente reformulado porque o aluno médio é uma abstração que raras vezes
corresponde à variedade encontrada nas salas de aula. Por isso, é melhor nos
prepararmos para turmas heterogêneas, em lugar de as lamentarmos. Levar em
conta sua diversidade é condição para poder ensinar.
Diferenças logo percebidas - de estatura, tom de voz e
modo de vestir - são pouco significativas se comparadas com as de
personalidade, história de vida e propensões, que só se revelam em um
convívio significativo e não cabem em classificações gerais, como
condição social e inteligência. Um garoto que demore para resolver uma
questão por considerar mais elementos e possibilidades não deve ser
visto como inferior a outro que logo apresenta uma resposta direta.
São
muitos os casos de julgamentos equivocados, até de crianças que a
escola avalia possuir algum tipo de deficiência intelectual e que, mais
tarde, se revelam geniais. Aliás, é preciso mais do que valorizar a
inteligência, pois jovens brilhantes também podem se prejudicar por
problemas de relacionamento. Se a escola for atenta a cada ser humano -
que pode se revelar mais ou menos sociável, curioso, introspectivo ou
irreverente -, consegue desenvolver as potencialidades de cada um para
sua realização pessoal e também em benefício dos colegas, fazendo assim
da heterogeneidade uma vantagem, e não um peso.
Não existe uma
forma única de promover o convívio significativo, que se baseia no
respeito aos diferentes ritmos e no reconhecimento de características
individuais. Uma coisa é lidar com uma pequena turma de crianças, outra é
fazer isso com adolescentes. Para o professor do 1° ao 5° ano, que tem
uma ou duas turmas, já é difícil orientar uma criança perplexa diante de
tarefa ainda não entendida e ao mesmo tempo compreender a impaciência
de outra que se apressa em mostrar o trabalho concluído.
Para o
especialista, o desafio se amplia. Com mais de 40 estudantes em cada uma
de suas várias classes, ele não tem como prestar um atendimento
individual. Se você está nessa situação e quer saber se só passará
conteúdos ou se contribuirá para o desenvolvimento de cada um, sugiro um
critério divertido: sempre que for possível se imaginar substituído por
uma palestra gravada e supervisionada por um vigia, seu trabalho não
valorizará a diversidade humana. Quando a expectativa é que os alunos
apenas ouçam, copiem, entreguem lições individuais e façam provas, o
resultado será notas e médias, ou seja, números. É possível fazer de
outra forma? Acredito que sim e dou sugestões para quatro necessidades:
- Conhecer a condição inicial dos alunos. O diálogo, seguido de um questionário de recepção, orienta a condução de cada etapa da escolaridade.
- Respeitar os ritmos de aprendizado. Tarefas de classe e questões de prova com variados níveis de dificuldade promovem desempenhos sem gerar exclusão.
- Ensinar alunos a se expressar e participar. A integração deles em grupos de trabalho com tarefas coletivas funciona melhor que uma conversa individual.
- Garantir que se considerem as características e necessidades dos estudantes. Reflexões sobre cada um devem ser realizadas nos conselhos de classe.
Não
é fácil para um professor implementar sozinho essas práticas, mas,
quando um projeto pedagógico as propicia, é notável o engajamento da
comunidade escolar para enfrentar o desafio de promover todos os alunos,
em lugar de selecionar alguns. O trabalho passa a fazer mais sentido e o
esforço vale a pena.
Luis Carlos Menezes
Fonte: Revista Nova Escola
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