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quinta-feira, 7 de junho de 2012

Interdisciplinaridade que funciona Trabalhar com temas integrados é uma proposta interessante, mas exige cuidados

Os projetos interdisciplinares estão incluídos no cotidiano de diversas escolas e é uma boa alternativa para integrar diferentes matérias e dar espaço para que alguns temas sejam abordados de uma maneira mais completa. Muitas vezes, há um grande engajamento da comunidade escolar nessas iniciativas, mas não fica claro o que os alunos aprenderam em cada uma das disciplinas. Por isso, é preciso olhar com atenção como a proposta está sendo construída, quais temas serão envolvidos e o que vai ser de fato ensinado aos estudante.
 A divisão em disciplinas é uma prática necessária para a organização das escolas e do ensino. É claro que o conhecimento não se limita a uma ou outra área. "Na vida, os conteúdos estão integrados", ressalta Denise Guilherme, assessora pedagógica de formação de professores de redes municipais de Educação. Essa visão mais ampla do saber existe desde a Antiguidade clássica, mas o conceito de interdisciplinaridade só ganhou força no final da década de 1960, quando universitários franceses brigaram pelo fim da fragmentação dos conteúdos e por um aprendizado mais voltado a temas políticos e sociais. 
 As reivindicações encontraram eco no Brasil pelos ensinamentos de Paulo Freire (1921-1997). O educador defendia que era preciso entender de maneira geral o universo em que se está inserido para só então estudar as particularidades de cada assunto. "Faltando aos homens uma compreensão crítica da totalidade em que estão, não podem conhecê-la. Para conhecê-la, seria necessário partir do ponto inverso. Seria indispensável ter antes a visão totalizada do contexto para, em seguida, separarem ou isolarem os elementos", explica no livro Pedagogia do Oprimido (256 págs., Ed. Paz e Terra, tel. 11/3337-8399, 34,90 reais). 
Com o tempo, esses conceitos foram incorporados ao discurso dos docentes e chegaram às salas de aula. Algumas escolas, no entanto, não souberam bem como transpor a ideia para a prática. Elas não se deram conta de que há uma diferença grande entre trabalhar de maneira integrada - tendo um bom projeto político-pedagógico (PPP), no qual os conteúdos conversam - e a crença de que todos os temas precisam ser abordados pela equipe docente inteira. 
 Tomemos como exemplo uma sequência sobre animais marinhos para a Educação Infantil. O principal conteúdo é de Ciências, mas, na tentativa de tornar a proposta interdisciplinar, é sugerido que em Matemática os alunos contem os animais estudados. "O resultado é um trabalho que não aprofunda o ensino dos temas eleitos e aborda superficialmente as várias áreas, sem garantir aprendizagens efetivas", comenta Denise. Em vez de ser uma atividade interdisciplinar, o que se tem é um tema subdividido. 
Outro problema comum é considerar interdisciplinar um trabalho de uma área específica, que apenas aproveita recursos de outra. Usar um texto científico em uma aula de Ciências, por exemplo, não é trabalhar Língua Portuguesa. Isso porque se os alunos apenas leram em sala não houve esforço voltado ao ensino da língua.

Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/interdisciplinaridade-funciona-686553.shtml

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