Os projetos interdisciplinares estão incluídos no cotidiano de diversas escolas e é uma boa alternativa para integrar
diferentes matérias e dar espaço para que alguns temas sejam abordados
de uma maneira mais completa. Muitas vezes, há um grande engajamento da
comunidade escolar nessas iniciativas, mas não fica claro o que os
alunos aprenderam em cada uma das disciplinas. Por isso, é preciso olhar
com atenção como a proposta está sendo construída, quais temas serão
envolvidos e o que vai ser de fato ensinado aos estudante.
A divisão em disciplinas é uma prática necessária para a organização das
escolas e do ensino. É claro que o conhecimento não se limita a uma ou
outra área. "Na vida, os conteúdos estão integrados", ressalta Denise
Guilherme, assessora pedagógica de formação de professores de redes
municipais de Educação. Essa visão mais ampla do saber existe desde a
Antiguidade clássica, mas o conceito de interdisciplinaridade só ganhou
força no final da década de 1960, quando universitários franceses
brigaram pelo fim da fragmentação dos conteúdos e por um aprendizado
mais voltado a temas políticos e sociais.
As reivindicações encontraram eco no Brasil pelos ensinamentos de Paulo
Freire (1921-1997). O educador defendia que era preciso entender de
maneira geral o universo em que se está inserido para só então estudar
as particularidades de cada assunto. "Faltando aos homens uma
compreensão crítica da totalidade em que estão, não podem conhecê-la.
Para conhecê-la, seria necessário partir do ponto inverso. Seria
indispensável ter antes a visão totalizada do contexto para, em seguida,
separarem ou isolarem os elementos", explica no livro Pedagogia do Oprimido (256 págs., Ed. Paz e Terra, tel. 11/3337-8399, 34,90 reais).
Com o tempo, esses conceitos foram incorporados ao discurso dos docentes
e chegaram às salas de aula. Algumas escolas, no entanto, não souberam
bem como transpor a ideia para a prática. Elas não se deram conta de que
há uma diferença grande entre trabalhar de maneira integrada - tendo um
bom projeto político-pedagógico (PPP), no qual os conteúdos conversam -
e a crença de que todos os temas precisam ser abordados pela equipe
docente inteira.
Tomemos como exemplo uma sequência sobre animais marinhos para a
Educação Infantil. O principal conteúdo é de Ciências, mas, na tentativa
de tornar a proposta interdisciplinar, é sugerido que em Matemática os
alunos contem os animais estudados. "O resultado é um trabalho que não
aprofunda o ensino dos temas eleitos e aborda superficialmente as várias
áreas, sem garantir aprendizagens efetivas", comenta Denise. Em vez de
ser uma atividade interdisciplinar, o que se tem é um tema subdividido.
Outro problema comum é considerar interdisciplinar um trabalho de uma
área específica, que apenas aproveita recursos de outra. Usar um texto
científico em uma aula de Ciências, por exemplo, não é trabalhar Língua
Portuguesa. Isso porque se os alunos apenas leram em sala não houve
esforço voltado ao ensino da língua.
Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/interdisciplinaridade-funciona-686553.shtml
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