Neurologia e Pedagogia: uma parceria possível e desejável
Com
freqüência, ouve-se de profissionais da área da educação que o empenho
em se fazer um diagnóstico médico não se traduz, em geral, em vantagens
práticas significativas. Nem para o educando nem para o educador.
Ouve-se, também, que rotular crianças não tem nenhuma outra função além
de estigmatizar aquela criança e de fazer dela uma "síndrome" e não mais
um aluno. Essa idéia tem tanta aceitação entre alguns profissionais que
determinados procedimentos, como por exemplo, testes psicométricos, são
evitados para que tais rótulos não possam ser aplicados. Outros
profissionais evitam diagnósticos claros, como deficiência mental,
autismo infantil ou epilepsia, por julgarem que esses termos somente
trarão mais problemas aos pacientes e seus familiares.
De
certo modo, seria como se o diagnóstico médico de alguém com qualquer
tipo de prejuízo tivesse apenas uma importância - a relação com o
aprendizado - mas sem trazer benefícios ao paciente, objeto do estudo,
nem aos profissionais da área da educação envolvidos com o paciente.
Uma
primeira questão seria saber se o neurologista tem instrumentos que lhe
permitem definir melhor o prejuízo presente e apontar, eventualmente,
caminhos a serem seguidos no processo de habilitação.
A
resposta a esta questão é, evidentemente, SIM. O neurologista, na
verdade hoje um neurocientista, tem a possibilidade, através do exame
clínico e dos recursos propedêuticos existentes e disponíveis entre nós,
de identificar inúmeras condições que podem cursar com prejuízos na
área da educação. Não somente estas condições podem e devem ser
identificadas como, em boa parte dos casos estudados, consegue-se
definir a etiologia do quadro e o perfil das dificuldades presente. A
identificação dos prejuízos presentes e do perfil de funcionamento
neuropsicológico possibilitarão à equipe encarregada do caso traçar um
programa de intervenção que represente a forma mais rápida, barata e
eficaz de atualizar o potencial presente no paciente.
A
determinação de um perfil neuropsicológico permite que possamos
conhecer não apenas os canais mais incompetentes, mas, e mais
importante, quais os canais mais competentes, através dos quais
deveremos enfatizar os esforços terapêuticos. Atualmente, há um consenso
no sentido de que muito mais útil do que insistir na tentativa de
normalizar ou atualizar a incompetência dos indivíduos é tentar investir
nas suas habilidades.
A
identificação do diagnóstico funcional e sindrômico pode auxiliar,
também, a reconhecer condições neurológicas progressivas que podem
manifestar-se, inicialmente, de modo muito sutil, por vezes através de
um distúrbio do comportamento e/ou da aprendizagem escolar. A
identificação de uma patologia progressiva, freqüentemente letal e
geneticamente determinada, é evidentemente desejável e o mais
precocemente possível.
O
aluno portador de necessidades especiais é um indivíduo que, por força
de sinais e sintomas variados, recebe com freqüência algum tipo de
medicação psicoativa. A participação do neurologista na equipe
possibilitará que efeitos colaterais destes medicamentos possam ser
identificados e que suas ações sobre o sistema nervoso possam ser
discutidas, uma vez que poderão determinar ou maximizar alguns problemas
de aprendizagem. Uma determinada criança pode vir a ter prejuízos mais
ou menos sérios no que se refere à aprendizagem escolar não em função de
uma determinada patologia que apresente (epilepsia, por exemplo), mas
sim em razão dos efeitos colaterais que os medicamentos utilizados (como
os anticonvulsivantes) podem determinar. Evidentemente que neste
aspecto, mais uma vez, a colaboração entre o neurologista e o educador
será de extrema utilidade par que uma ação terapêutica possa ser
traçada.
Por
outro lado, compete ao neurologista a prescrição de psicofármacos que
poderão, em certas circunstâncias, ser extremamente benéficos aos
alunos, melhorando, inclusive, a aprendizagem e/ou minimizando problemas
comportamentais presentes e que podem interferir muito com a atividade
escolar de alguns deles. A parceria com o educador permitirá que
eventuais melhoras, bem como possíveis pioras, possam ser identificadas
nas salas de aula e discutidas com o médico.
A
compreensão, na maior profundidade possível, do quadro clínico do nosso
aluno especial será de extrema valia na discussão de que tipo de
escolaridade deverá se indicada. Nesta época, em que se discute com
muita ênfase a inclusão do aluno especial nas escolas normais, uma
compreensão exata do grau de comprometimento do aluno, bem como uma
idéia realista a respeito de seu potencial educacional, poderá nortear
os técnicos no sentido de optarem por um ambiente escolar normal ou um
especial/protegido.
Muito
embora estejamos de acordo, em tese, no sentido de que seria desejável
que todos os alunos estivessem incluídos e adaptados à escola normal,
sabemos perfeitamente que certos tipos de prejuízos impedirão que esta
inclusão se faça com vantagens para o aluno. A inclusão dependerá não
apenas dos limites impostos pela condição de base, mas também das
facilidades existentes na comunidade à qual o aluno pertence.
O
objetivo do estudo das neurociências é, em última análise, o
conhecimento da função do sistema nervoso tanto no indivíduo sadio
quanto naquele que apresenta algum desvio. Este conhecimento pode e deve
reverter em benefício dos portadores de necessidades especiais na forma
de procedimentos e métodos educacionais e terapêuticos idealizados a
partir do conhecimento da função neural na saúde e na patologia.
Jose Salomao
*Médico
neuropediatra, Doutor em Neurologia Clínica pela Escola Paulista de
Medicina, Professor do Curso de Pós-Graduação da Universidade Mackenzie.
A Importância da Neurociência na Aprendizagem e Educação.
O
aprender e o lembrar do estudante ocorre no seu cérebro. Conhecer como o
cérebro funciona não é a mesma coisa do que saber qual é a melhor
maneira de ajudar os alunos a aprender. A aprendizagem e a educação
estão intimamente ligadas ao desenvolvimento do cérebro, o qual é
moldável aos estímulos do ambiente. Os estímulos do ambiente levam os
neurônios a formar novas sinapses. Assim, a aprendizagem é o processo
pelo qual o cérebro reage aos estímulos do ambiente, ativando sinapses,
tornado-as mais “intensas”. Como conseqüência, estas se constituem em
circuitos que processam as informações, com capacidade de armazenamento
molecular. O estudo da aprendizagem une a educação com a neurociência. A
neurociência investiga o processo de como o cérebro aprende e lembra,
desde o nível molecular e celular até as áreas corticais. A formação de
padrões de atividade neural considera-se que correspondam a determinados
“estados e representações mentais” O ensino bem sucedido provocando
alteração na taxa de conexão sináptica, afeta a função cerebral. Por
certo, isto também depende da natureza do currículo, da capacidade do
professor, do método de ensino, do contexto da sala de aula e da família
e comunidade.Todos estes fatores interagem com as características do
cérebro dos indivíduos. A alimentação afeta o cérebro da criança em
idade escolar. Se a dieta é de baixa qualidade, o aluno não responde
adequadamente a excelência do ensino fornecido.Neurociência cognitiva e
Educação.A neurociência cognitiva utiliza vários métodos de investigação
(por ex. tempo de reação, eletroencefalograma, lesões em estruturas
neurais em animais de laboratório, neuroimageamento) a fim de
estabelecer relações cérebro e cognição em áreas relevantes para a
educação. Está abordagem permitirá o diagnóstico precoce de transtornos
de aprendizagem. Este fato exigirá métodos de educação especial, ao
mesmo tempo a identificação de estilos individuais de aprendizagem e a
descoberta da melhor maneira de introduzir informação nova no contexto
escolar.Investigações focalizadas no cérebro averiguando aspectos de
atenção, memória, linguagem, leitura, matemática, sono e emoção e
cognição, estão trazendo valiosas contribuições para a educação.
Pesquisadores em educação têm uma postura otimista de que as descobertas
em neurociências contribuam para a teoria e práticas educacionais.
Destarte, uma avalanche de artigos leigos em jornais diários e revistas
de divulgação e mesmo periódicos científicos, têm exagerando os
benefícios desta contribuição, variando daqueles totalmente
especulativos àqueles incompreensíveis e esotéricos. Exemplos incluem
empreendimentos para desenvolver currículo sob medida, para atender
fraqueza/excelência daqueles alunos que usam preferencialmente um dos
hemisférios. Este “neuromito” é uma informação infundada do que a
neurociência pode oferecer à educação Bruer (2002) o qual argumenta que a
neurociência possivelmente nunca contribuirá para a educação devido a
desarticulação de conhecimentos entre as duas áreas, contrapõe-se a
postura de Connell (2004). O pesquisador da Universidade Harvard
argumenta que, introduzindo o “nível de análise” com agregação da
neurociência computacional, elimina as fronteiras específicas. Assim, a
neurociência, psicologia e ciências cognitivas somadas à educação,
trazem novo enquadramento e integração destas áreas do
conhecimento.Neurociência e prática educativa.A pesquisa em neurociência
por si só não introduz novas estratégias educacionais.Contudo fornece
razões importantes e concretas, não especulativas, porque certas
abordagens e estratégias educativas são mais eficientes que outras.
.Princípios da neurociência com potencial aplicação no ambiente
de sala de aula.
1. Aprendizagem e memória e
emoções ficam interligadas quando ativadas pelo processo de
Aprendizagem. A Aprendizagem sendo atividade social, alunos precisam de
oportunidades para discutir tópicos. Ambiente tranqüilo encoraja o
estudante a expor seus sentimentos e idéias.
2.
O cérebro se modifica aos poucos fisiológica e estruturalmente como
resultado da experiência. Aulas práticas/exercícios físicos com
envolvimento ativo dos participantes fazem associações entre
experiências prévias com o entendimento atual.
3.
o cérebro mostra períodos ótimos (períodos sensíveis) para certos tipos
de aprendizagem, que não se esgotam mesmo na idade adulta. Ajuste de
expectativas e padrões de desempenho às características etárias
específicas dos alunos, uso de unidades temáticas integradoras.
4.
O cérebro mostra plasticidade neuronal (sinaptogênese), mas maior
densidade sináptica não prevê maior capacidade generalizada de aprender.
Os Estudantes precisam sentir-se “detentores” das atividades e temas
que são relevantes para suas vidas. Atividades pré-selecionadas com
possibilidade de escolha das tarefas aumenta a responsabilidade do aluno
no seu aprendizado.
5. Inúmeras áreas do
córtex cerebral são simultaneamente ativadas no transcurso de nova
experiência de aprendizagem. Situações que reflitam o contexto da vida
real, de forma que a informação nova se “ancore” na compreensão
anterior.
6. O cérebro foi evolutivamente
concebido para perceber e gerar padrões quando testa hipóteses. Promover
situações em que se aceite tentativas e aproximações ao gerar hipóteses
e apresentação de evidências. Uso de resolução de “casos” e simulações.
7.
O cérebro responde, devido a herança primitiva, às gravuras, imagens e
símbolos. Propiciar ocasiões para alunos expressarem conhecimento
através das artes visuais, música e dramatizações.A neurociência oferece
um grande potencial para nortear a pesquisa educacional e futura
aplicação em sala de aula. Pouco se publicou para análise retrospectiva.
Contudo, faz-se necessário construir pontes
entre a neurociência e a prática educacional. Há forte indicação de que a
neurociência cognitiva está bem colocada para fazer esta ligação de
saberes.
Fonte: http://pri-educacaoinfantilparaserfeliz.blogspot.com.br/search/label/Neuroci%C3%AAncia
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