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quinta-feira, 16 de abril de 2015

A elaboração da morte

Escutar, oferecer apoio e propor ações são as formas mais eficazes para ajudar os alunos a enfrentar a perda

Catarina Iavelberg (gestaoescolar@fvc.org.br)
 
Poucos de nós sabem lidar com a morte. Embora a vivência dela seja uma característica inegável da condição humana, o assunto não é objeto da formação social dos indivíduos na nossa cultura. Família e escola, instituições responsáveis pelas primeiras experiências de socialização, não incluem essa questão entre suas atribuições do educar.

Infelizmente (ou felizmente), não temos o controle sobre a vida. Às vezes, precisamos enfrentar a perda quando e onde menos esperamos. É um choque nos depararmos com o falecimento imprevisto de um ente querido. Tudo fica mais difícil se necessitamos tratar do tema na escola, principalmente se o caso ocorre no interior do ambiente educativo. É necessário muito tato e sensibilidade para saber como agir diante do fim da vida de um aluno, familiar ou professor.

Acontecimentos repentinos, causados por acidentes ou atos de violência, deixam todos perplexos. O adoecimento, de algum modo, oferece um tempo de preparação. Poder se despedir de uma pessoa enferma é uma oportunidade para quem fica se conformar, ainda que isso não torne a perda menos dolorosa.

A morte é uma experiência que mobiliza muitos sentimentos e emoções difíceis de serem vivenciadas - como a culpa, a indignação e a raiva. Porém certas ações favorecem a sua elaboração. Por exemplo, nos casos em que a causa foi acidente de trânsito ou um ato de violência, é possível organizar atividades que problematizem socialmente o ocorrido. Cerimônias simbólicas também constituem iniciativas interessantes - um dia de luto e a criação de um espaço, como um blog ou mural, para o registro de imagens, mensagens escritas e outras manifestações.

Em situações trágicas que envolvam familiares de um aluno, nossa primeira reação é querer ajudá-lo a lidar com a tristeza. Temos de ser cuidadosos para não deixar que as crenças pessoais interfiram no modo como cada um encara a circunstância. Nesse momento, o importante não é falar, e sim escutar. É preciso orientar os professores para que fiquem atentos às expressões da criança, seus comportamentos e suas perguntas ou até o seu silêncio. Se ela faz desenhos recorrentes de morte, mostra sinais de isolamento ou se torna agressiva, o gestor deve ser comunicado. É o caso de convidar os pais para uma conversa.

Muitas famílias têm dúvidas em como abordar o tema com os filhos. Algumas falam demais, outras silenciam, apoiam-se em preceitos religiosos ou fazem uso de metáforas - "Virou uma estrela no céu", "Foi fazer uma grande viagem".

Não cabe à escola atribuir um sentido para a morte nem ajudar as famílias a construir esse significado. Porém não se pode virar as costas para os familiares que pedem auxílio. Em algumas ocasiões, será necessário se mostrar disponível à escuta e oferecer acolhimento. O mesmo vale para professores e funcionários. Afinal, quem cuida dos alunos também precisa ser cuidado. Organizar conversas e escutar seus medos e suas dúvidas é uma tarefa difícil, que requer um saber específico - domínio que não se pode exigir do gestor. Psicólogos especializados estão aptos a contribuir no gerenciamento desses momentos. O principal é analisar cada situação, propor ações e avaliar a necessidade de recorrer a especialistas.

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