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quinta-feira, 16 de abril de 2015

Ciências> Vida e ambiente> Origem e destino dos recursos naturais - 5 perguntas sobre práticas sustentáveis

Uso da sacola plástica, reciclagem, consumo consciente da água: não existe uma resposta simples quando o tema é sustentabilidade. Conheça um pouco mais sobre algumas das atitudes mais comentadas atualmente

 
Sustentabilidade. Essa palavra já está em voga há algum tempo e tem ganhado cada vez mais importância. Em tempos de escassez de água em certas regiões e dúvidas em relação ao potencial energético do país, o conceito tem cada vez mais deixado de ser uma questão de modismo ou de apelo ao politicamente correto. Isso sem falar nas questões planetárias, como o efeito estufa, o aquecimento global, a extinção de espécies e a diminuição da camada de ozônio. Mas você sabe realmente o que ela significa?
A definição mais difundida do termo surgiu no Relatório Brundtland, lançado em 1987 pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU. O documento preconiza que as bases para o desenvolvimento sustentável devem levar em conta a satisfação das necessidades presentes sem comprometer as gerações futuras.

Com o passar do tempo - e muito trabalho dos ativistas - o termo se popularizou, espraiando-se para as mais diferentes atividades humanas. Áreas tão distintas como a indústria, a administração pública, o turismo e o entretenimento passaram a utilizá-lo para agregar valor (outro termo muito difundido hoje em dia) aos mais diversos produtos e serviços.

"A sustentabilidade não é feita em um só caminho. Não existe apenas uma solução para cada assunto. É preciso analisar as circunstâncias de cada local", analisa Andrée Vieira, consultora em educação pela sustentabilidade. Respondemos a seguir cinco perguntas sobre práticas sustentáveis que têm estimulado discussões sobre o tema.

1. A sacolinha plástica é a grande vilã da sustentabilidade?
O problema não é a sacola em si, mas o uso que se faz dela e a forma como ela é produzida. A falta de padronização e a baixa qualidade das sacolas oferecidas pelos supermercados e pelo comércio em geral fazem dela um item descartável. Depois de carregar as compras, elas viram, na melhor das hipóteses, sacos de lixo. Ou então são simplesmente descartadas como tal.

É aí que mora o problema. Esse uso indiscriminado faz com que cerca de 1 trilhão de sacolas sejam consumidas anualmente em todo mundo. No Brasil, apenas os supermercados distribuem em torno de 1 bilhão de unidades por mês. Essa quantidade colossal de plástico causa o entupimento de bueiros, a impermeabilização dos solos - dificultando a decomposição do lixo orgânico em aterros sanitários, entre outras coisas - e a morte de milhares de aves e animais marinhos. E há ainda o desperdício indireto de água e petróleo cada vez que uma delas é descartada.

Mas qual a solução? Bani-las? Não. O melhor seria usá-las de forma mais racional. "A questão é o uso que a gente faz desse recurso. O material plástico facilita muito a vida, mas usá-lo para fazer produtos descartáveis é um desperdício muito grande", comenta Silvia Sá, gerente de Educação do Instituto Akatu. De acordo com uma estimativa da entidade, as sacolas plásticas duráveis podem ser utilizadas mais de 350 vezes e substituem, a cada uso, até oito sacolas descartáveis. Uma conta rápida: considerando uma pessoa que vai quatro vezes às compras por mês, a vida útil da sacola seria de pouco mais de 7 anos. Isso equivaleria ao uso cerca de 2.700 sacolinhas descartáveis no mesmo período.

Para a jornalista e ambientalista Maria Zulmira de Souza, a questão da sacolinha é só "a ponta do iceberg" da falta de implementação efetiva da política de resíduos sólidos no país. "A solução passa pelo entendimento de que deve haver racionalidade no consumo de qualquer produto que gere resíduos", argumenta.

2. É necessário lavar as embalagens que vão para coleta seletiva?

A resposta técnica para essa pergunta é não. O processo para reciclagem da maioria dos resíduos sólidos envolve o uso de fornos industriais de alta temperatura, o que elimina qualquer resquício de resíduo que tenha ficado na embalagem. Além disso, boa parte desses materiais passam por lavagem em alguma etapa do processo, o que torna a higienização desnecessária.

Por outro lado, há outros aspectos que devem ser levados em consideração. Um deles é o sanitário. O acúmulo de material orgânico junto às embalagens pode ser um convite para ratos e baratas. Se um deles na sua área de serviço já é inconveniente, imagine famílias inteiras de animais vagando sobre pilhas e pilhas de latas de leite condensado, potes de maionese ou garrafas de refrigerante nos depósitos das cooperativas. Em casos como esses, lavar as embalagens antes do descarte poderia diminuir a proliferação de insetos e outros animais que podem ser nocivos à saúde.

Mas como saber quando lavar ou não? A dica é avaliar caso a caso. Passar uma água em uma garrafa de vidro ou numa caixa de leite não custa nada e quase não gasta água, se você se organizar para isso. Já para uma lata de creme de leite, por exemplo, pode não valer o gasto de água. "É possível usar uma bacia ou água de reuso para lavar as embalagens", orienta Maria Zulmira. Outro procedimento importante é secar as embalagens antes de descartá-las.

3. É melhor optar por utensílios descartáveis para economizar a água da lavagem?
Absolutamente não. Essa é uma prática em voga ultimamente no comércio de regiões que estão enfrentando problemas de abastecimento de água, mas está longe de ser a opção mais indicada. Ela ataca o problema de um ponto de vista emergencial - o da falta de água na torneira -, mas pode ter um impacto muito prejudicial ao meio ambiente a médio ou longo prazo. Uma pesquisa da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) mostrou que a quantidade de água utilizada para produzir um único copo descartável pode ser até 10 vezes maior do que a necessária para lavar um copo de vidro.

Recentemente, o professor Bruno Gianelli, especialista em tecnologia de materiais do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP), em Itapetininga, no interior de São Paulo, respondeu a essa pergunta para o blog do jornalista Afonso apelas Jr., no portal Planeta Sustentável. Ele estimou em meio litro o gasto de água por copo descartável enquanto o processo de lavagem de um copo durável, se otimizado pelo uso de uma lavadora ou da indefectível bacia, gastaria apenas 100 ml. Some-se a isso o gasto de água e combustível embutido no transporte, estocagem e revenda dos copos plásticos. Ainda pior: a quantidade de lixo - nem sempre encaminhado para reciclagem - que essa prática gera.

4. Reciclar é sempre a melhor opção?

Pode parecer improvável, mas a resposta é não. A reciclagem deve ser a última opção no tratamento dos resíduos. O processo de transformação de um material descartado em matéria-prima para novos produtos envolve custos, trabalho e uso de recursos naturais. Especialistas em consumo consciente falam em quatro atitudes que o consumidor deve levar em consideração ao consumir. São os "4 Rs": repensar, reduzir, reutilizar e reciclar. Esses conceitos seguem uma ordem lógica para que reflitamos sobre nossos hábitos a fim de evitar o consumo supérfluo. "Os projetos de reciclagem estão muito presentes na escola, mas é preciso deixar claro que essa é a última alternativa possível. A gente tem que pensar se precisamos consumir tudo o que a gente consome", avalia Silvia.

5. Reduzir e reaproveitar é tudo o que se pode fazer para economizar água?
Você fecha a torneira para escovar os dentes e durante o banho, só dá descarga com água de reuso, recolhe a água do enxágue da máquina de lavar e acabou de instalar uma cisterna para recolher a água da chuva? Sem dúvida, você está no caminho correto e faz muito mais pelo uso racional da água do que a maioria da população.

Mas, aí, você encontra um pedaço de carne esquecido no fundo da geladeira, que deveria ser seu almoço quatro dias antes. Ao abrir o embrulho, o cheiro já denuncia que o produto não está bom para consumo. Vai ter que ir pro lixo. Se a peça em questão tiver meio quilo, lá se foram cerca de 7.500 litros de água pelo ralo.

Das atividades humanas, a agricultura é a que mais consome água. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), 70% da água doce disponível no planeta é usada para irrigação de campos cultiváveis. E o pior, ainda de acordo com a agência, é que o destino de um terço de todo alimento produzido no mundo acaba sendo a lata de lixo. A cultura do consumo e da abundância é uma das responsáveis pelo gasto desmedido. "Antes existiam as frutas de época. Agora, temos tudo o ano inteiro. Mas isso se faz à custa de muito mais água e energia", afirma Maria Zulmira.

Você pode nunca ter parado para pensar nisso, mas praticamente tudo o que consumimos precisa de água em algum momento de sua cadeia produtiva. Esse conceito é chamado de água virtual. Para dar mais um exemplo: uma simples calça jeans, peça obrigatória no guarda-roupa da maioria das pessoas atualmente, precisa de 10 mil litros de água para ser confeccionada. Então, antes de comprar algo é importante sabermos o qual é o impacto que aquele produto gera e pensar duas, três, quatro vezes antes de consumir - e descartar - por impulso.
 

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