1- O que é projeto didático?
Projeto
didático é um tipo de organização e planejamento do tempo e dos
conteúdos que envolve uma situação- problema. Seu objetivo é articular propósitos didáticos (o que os alunos devem aprender) e propósitos sociais
(o trabalho tem um produto final, como um livro ou uma exposição, que
vai ser apreciado por alguém). Além de dar um sentido mais amplo às
práticas escolares, o projeto evita a fragmentação dos conteúdos e torna
a garotada corresponsável pela própria aprendizagem.
Os projetos
estão mais populares do que nunca. Redes de todo o país incentivam o
trabalho com essa modalidade e algumas escolas preveem no currículo os
que serão realizados durante o ano. Boa notícia. Afinal, em muitos
casos, eles ajudam a ensinar mais e melhor. Porém falta informação sobre
o tema. Só neste ano, NOVA ESCOLA recebeu 166 e-mails com dúvidas.
Compiladas em 14 questões, elas são respondidas nesta reportagem para
ajudar você a dominar essa ferramenta.
2 Quais as características de uma boa proposta?
Os projetos podem ser planejados e organizados de inúmeras formas, porém algumas ações são fundamentais:
1. Tema: delimitar e conhecer bem o assunto que será estudado e pesquisá-lo previamente.
2. Objetivos: escolher uma meta de aprendizagem principal e outras secundárias que atendam às necessidades de aprendizagem
3. Conteúdos: ter clareza do que as crianças conhecem e desconhecem sobre o tema e o conteúdo do trabalho.
4. Tempo estimado: construir um cronograma com prazos para cada atividade, delimitando a duração total do trabalho.
5. Material necessário: selecionar previamente os recursos e materiais que serão usados, como sites e livros de consulta.
6. Apresentação da proposta: deixar claro para a sala os objetivos sociais do trabalho e quais os próximos passos.
7. Planejamento das etapas: relacionar uma etapa à outra, em uma complexidade crescente.
8. Encaminhamentos: antecipar quais serão as perguntas que você fará para encaminhar a atividade.
9. Agrupamentos: prever quais momentos serão em grupo, em duplas e individuais.
10. Versões provisórias: revisar o que a garotada fez e pedir novas versões do trabalho.
11. Produto final: escolher um produto final forte para dar visibilidade aos processos de aprendizagem e aos conteúdos aprendidos.
12. Avaliação: prever os critérios de avaliação e registrar a participação de cada um ao longo do trabalho.
3 Todo projeto precisa ser interdisciplinar?
Não. Um projeto focado em apenas uma área tem grande valor, já que permite um mergulho mais profundo no conteúdo trabalhado.
Embora, às vezes, pareça que objetivos de disciplinas diferentes
estejam coordenados numa mesma proposta, muitas vezes só os relacionados
a uma delas estão sendo desenvolvidos. Num cenário ainda pior - e
também comum -, não são trabalhados de forma correta os conteúdos de
nenhuma das áreas.
Um bom projeto é aquele que indica intenções
claras de ensino e permite novas aprendizagens relacionadas a todas as
disciplinas envolvidas. "Não é raro a turma apenas utilizar
conhecimentos que já possui", explica Maria Alice Junqueira, professora
de Pedagogia do Instituto de Educação Superior Vera Cruz, em São Paulo, e
assessora de redes públicas e escolas particulares. Veja o exemplo de
um projeto de Ciências que tem como objetivo ensinar procedimentos de
pesquisa. Se os alunos tiverem de produzir um relatório e já forem
experientes na escrita desse gênero, não é possível dizer que ele
envolve a disciplina de Língua Portuguesa - afinal, eles só estão
colocando em jogo o que sabem. Isso vai efetivamente ocorrer se a tarefa
for produzir um artigo científico e esse tipo de texto for novo para
todos.
A ideia de que projetos didáticos precisam ser
interdisciplinares pode estar relacionada a uma confusão entre essa
estratégia, os projetos institucionais e os temas geradores. Os projetos
institucionais são ações que envolvem toda a escola em torno de um
mesmo objetivo - por exemplo, produzir um jornal ou uma campanha. Nesse
caso, cada professor precisa pensar em atividades relacionadas a ele
para desenvolver com sua turma. Não há necessariamente um produto final
ou um propósito social para o trabalho. Já quando é definido um tema
gerador, como meio ambiente, cabe ao professor escolher quais serão os
conteúdos a enfocar e os objetivos a alcançar. O problema, nesse caso, é
organizar as atividades em cima de um tema considerado envolvente pelos
alunos, em vez de fazer um planejamento baseado nas reais necessidades
de aprendizagem deles.
4 É melhor criar um projeto ou aplicar um já testado?
Para
um profissional que tem pouca experiência com esse tipo de trabalho, é
melhor utilizar um bom modelo, com todas as etapas definidas e os
objetivos previamente pensados e aprovados. Não há demérito
nisso. Nas melhores escolas, é comum replicar boas práticas. "Um projeto
nunca vai ser uma receita fechada, que o professor simplesmente lê e
desenvolve em classe com a turma. É preciso adaptar as atividades
levando em consideração as características dos alunos e a realidade
local", ressalta Clélia Cortez, coordenadora pedagógica do Colégio Vera
Cruz, em São Paulo. Um trabalho sobre animais, por exemplo, fica muito
mais interessante se focar as espécies encontradas na região.
Mesmo quando há um exemplo a seguir, é preciso analisar se as questões
colocadas pelo autor estão de acordo com o nível de conhecimento do
grupo, se os materiais sugeridos são adequados e estão disponíveis e se
as etapas são suficientes para a realização de todas as atividades. "Ao
longo do trabalho, adaptações são necessárias para o cumprimento dos
objetivos. "São esses cuidados que garantem os traços de autoria no
desenvolvimento da proposta", completa Clélia. Já um professor
acostumado a trabalhar dessa forma pode criar os próprios projetos e
organizá-los num banco, a ser utilizado com variações de tema, conteúdo e
série. Isso não significa, no entanto, que uma estratégia de sucesso
deva ser repetida ano após ano. Mesmo que o currículo seja o mesmo, os
alunos são diferentes e isso exige mudanças.
5 Quando optar por um projeto?
Alguns
conteúdos curriculares permitem (e às vezes pedem) um trabalho
aprofundado e que inclua as práticas sociais relacionadas a ele. Confira
abaixo alguns blocos de conteúdo de cada disciplina mais adequados a
essa modalidade.
Pré-escola
Conteúdos Natureza e sociedade, linguagem oral e comunicação e exploração e linguagem plástica
Por que é adequado - Aproxima as crianças de práticas sociais, como a busca por informações e a apresentação delas
- Traz um novo propósito para a leitura em aula: ler para estudar e para saber mais sobre um tema
Erros mais comuns - Planejar projetos curtos (de uma semana) porque envolvem os pequenos
- Focar o acabamento do produto final, descaracterizando a produção das crianças.
Língua portuguesa
Conteúdos Sistema alfabético de escrita, comunicação oral, comportamentos escritores e leitores
Por que é adequado - Fornece um contexto favorável de leitura e escrita aos que não estão alfabetizados
- Articula o conhecimento sobre o sistema de escrita aos conteúdos relacionados à linguagem
- Favorece a união dos propósitos didáticos aos sociais, já que a turma sabe para quem, por que e o que escrever
Erros mais comuns - Desperdiçar a oportunidade de refletir sobre o sistema alfabético
- Planejar as mesmas atividades para alunos alfabéticos e não alfabéticos
- Trabalhar sempre com os mesmos propósitos de leitura, escrita e oralidade
- Focar o trabalho no produto final
Matemática
Conteúdos Leitura, escrita, comparação e ordenação de escrita numérica
Por que é adequado
- Traz os números nos contextos cotidianos, o que nos anos iniciais dá
mais sentido às atividades, apesar de não ser imprescindível
Erros mais comuns - Simular mercadinhos e não propor a reflexão sobre as operações utilizadas
- Dar mais atenção ao produto final, deixando em segundo plano o conteúdo que se quer ensinar
Ciências
Conteúdos Procedimentos e atitudes científicas
Por que é adequado - Mostra à turma a importância de buscar soluções, interpretar dados, observar e registrar descobertas
- Promove a divulgação dos conhecimentos produzidos pelos alunos para destinatários reais
Erros mais comuns - Passar meses pesquisando um tema
- Não propor a reflexão sobre a importância dos procedimentos realizados
- Deixar de orientar a pesquisa
História
Conteúdos Procedimentos de pesquisa e História oral e local
Por que é adequado - Cria situações significativas de pesquisa, semelhantes às vividas por historiadores
- Garante que os alunos leiam e escrevam sobre o tema para um
destinatário real, o que é essencial para preservar as características
sociais da linguagem nessa área
Erros mais comuns - Aceitar a simples cópia de informações
- Não ajudar na interpretação dos textos
- Ignorar as relações entre o passado e o presente
- Adaptar textos ou apenas usar aqueles considerados de fácil leitura
Geografia
Conteúdos Geografia física e Geografia cultural
Por que é adequado - Evita a fragmentação do saber geográfico
- Permite articular os diferentes campos de estudo da área, como o relevo relacionado a estudos de caso na cidade e no campo
Erros mais comuns - Pedir apenas textos descritivos
- Não desenvolver a cartografia temática
- Deixar de lado o trabalho investigativo
- Não relacionar a paisagem à cultura
Educação Física
Conteúdos Práticas da cultura corporal e conhecimentos sobre o corpo
Por que é adequado
- Possibilita o estudo das manifestações corporais, unindo as questões
sociais, físicas, culturais e econômicas envolvidas nessas práticas
- Ajuda a mudar a concepção das aulas, colocando as práticas corporais como parte de um processo maior de aprendizagem
Erros mais comuns - Deixar de sistematizar os conhecimentos adquiridos durante o trabalho
- Não pedir que os alunos produzam materiais escritos e de apoio à pesquisa
- Supervalorizar as aulas práticas e dar menos atenção às questões teóricas
Língua estrangeira
Conteúdos Comportamentos leitores e escritores
Por que é adequado - Coloca os alunos em situações sociais de uso do idioma, como a ida ao cinema
- Possibilita à turma entrar em contato com outros falantes, além de textos, vídeos e jogos interativos
Erros mais comuns - Planejar sem adequar os desafio à experiência anterior de cada estudante
- Usar materiais não adequados às características da turma
Arte
Conteúdos Produção e reflexão sobre Arte
Por que é adequado - Cria situações significativas de pesquisa, semelhantes às vividas por historiadores
- Garante que os alunos leiam e escrevam sobre o tema para um
destinatário real, o que é essencial para preservar as características
sociais da linguagem nessa área
Erros mais comuns - Pedir que os alunos sempre façam releituras e não icentivar que criem
- Organizar o produto final sem a participação dos estudantes
- Não incluir o trabalho de todos no produto final
6 Como fazer o planejamento?
O primeiro passo é ter clareza sobre o que você quer ensinar, o que espera que os alunos aprendam e o que eles já sabem. Assim é possível garantir dois importantes critérios didáticos: a continuidade e a variedade de conteúdos ao longo dos anos.
Feito
um recorte no conteúdo - levando em conta a faixa etária da turma e as
necessidades de aprendizagem -, é preciso conhecê-lo a fundo e
selecionar os materiais a ser usados, como textos, livros e sites. Só
então são elaboradas as etapas. Sobre o que eu espero que a classe
reflita? No que quero que avance? "Os projetos ajudam a dar voz às
crianças por meio da problematização constante. Quando perguntamos da
maneira correta, elas indicam o que entenderam e dão sinais do que deve
ser ajustado na compreensão. Isso permite avaliar como o trabalho está
caminhando e para onde seguir", explica Clélia Cortez.
Pensar no
encadeamento das etapas também é fundamental. A ordem é lógica? Esse é o
melhor caminho para que a garotada aprenda? A próxima tarefa é
construir um cronograma e detalhar como desenvolver o trabalho em sala.
Nesse ponto, é essencial ter definido o produto final - uma feira
cultural ou um blog, por exemplo - e se haverá um momento de finalização
e socialização do trabalho. Em caso afirmativo, qual o objetivo dessa
culminância? Essas decisões interferem na gestão de tempo e na busca
pelos recursos. Por fim, é necessário definir os critérios de avaliação.
Tudo isso precisa estar escrito e serve como uma bússola para o
trabalho.
7 Cada etapa deve ter um objetivo?
Sim.
Apesar de o projeto necessitar de um propósito central (trabalhar
comportamentos escritores, por exemplo), cada atividade deve ter o seu,
sempre relacionado ao principal. Quando se sabe o que é preciso
ensinar em cada momento, é mais fácil intervir e ajudar a turma a
avançar. Esse conceito norteou a prática da professora Eudes da Silva
Alves, da EMEB Doutor José Ferraz de Magalhães Castro, em São Bernardo
do Campo, na Grande São Paulo, quando desenvolveu um projeto sobre
contos de aventura com uma turma do 5º ano.
Primeiro, ela
ofereceu às crianças diversos livros para ampliar o repertório. Depois,
propôs uma análise das características do gênero estudado,
sistematizando os conhecimentos adquiridos. Na sequência, realizou uma
produção coletiva para que a turma se familiarizasse com esse tipo de
texto. Por fim, os alunos redigiram as próprias versões, que foram
revisadas com o apoio de Eudes.
Em alguns momentos, é possível
pensar em objetivos secundários que não tenham necessariamente relação
com o propósito de ensino maior. É comum isso ocorrer em atividades
relacionadas ao produto final, como no caso de as crianças fazerem um
desenho para a capa do livro da turma. Isso não está ligado à escrita,
mas é uma ação comum na produção de publicações - dentro e fora da
escola. Já que se quer preservar as práticas sociais, vale prever isso. O
principal cuidado é não reservar muito tempo para esses momentos
secundários. Eles devem ser pontuais e focados.
8 Como antecipar as dificuldades dos alunos?
Mais do que antecipar dúvidas, é preciso pensar em atividades específicas para estudantes com níveis diferentes de saber.
Para contemplar todos eles, há três saídas: variar a complexidade das
tarefas apresentadas, organizar os alunos em grupos e dar atenção
àqueles que mais precisam. Para evitar problemas em relação a atividades
como pesquisas, entrevistas e interpretação de dados, a solução é
investigar as experiências que os estudantes tiveram anteriormente e, se
necessário, reservar um tempo para o trabalho com esses procedimentos.
Outra opção é retomar registros de atividades anteriores e verificar os
pontos que vão necessitar de mais atenção durante o projeto.
9 Todas as atividades devem ser em grupo?
Não. Um bom projeto contempla atividades em que os alunos atuam sozinhos, em duplas e em grupos. Porém,
como os projetos envolvem a turma toda e o produto final é uma obra
coletiva, muitos pensam que tudo deve ser feito em equipe. É importante
que as ações estejam articuladas entre si, como no
projeto Galeria Virtual de Arte.
A atividade começa coletivamente, com a ampliação do repertório da
turma e a apresentação de uma ferramenta eletrônica que possibilita as
visitas. Para conhecer o acervo e trocar impressões sobre ele, são
formados trios. De novo juntos, todos escolhem quadros para compor uma
galeria e, na sequência, cada aluno fica responsável pela legenda de um
quadro, mostrando o que aprendeu.
Um bom critério para definir de
que forma os estudantes vão realizar a tarefa é sua complexidade. A
leitura de um texto, por exemplo, deve ser feita em grupo quando a
garotada tem pouca experiência com o tema ou o gênero. A pesquisadora
Delia Lerner, em um artigo publicado na revista argentina Letra y Vida,
afirma que a discussão entre os alunos numa situação como essa é
fundamental porque obriga cada um deles a justificar sua interpretação
e, assim, tomar consciência das próprias contradições, além de conhecer a
interpretação dos colegas. Depois dessa etapa, realizar sozinho uma
atividade baseada nas informações do texto fica bem mais fácil.
10 Como apresentar a proposta à turma?
O primeiro passo é criar um clima de curiosidade.
Para envolver a garotada, de nada adianta só dizer: "Vamos trabalhar
nos próximos meses com um projeto". "O sucesso da estratégia está
condicionado ao interesse despertado no estudante, valorizado como
pesquisador e expositor do que apreendeu", explica Jorge dos Santos
Martins, autor de livros sobre projetos de pesquisa.
O ideal é
começar a conversa problematizando o tema e o produto final. Nesse
caso, o recomendado é envolver os alunos na discussão sobre como chegar
ao resultado esperado. A professora Lisiane Hermann Oster, do Sesquinho -
Escola de Educação Infantil do Sesc, em Ijuí, a 410 quilômetros de
Porto Alegre, seguiu à risca essa recomendação. Ao desenvolver um
projeto sobre o sistema de numeração com uma turma de 5 anos, ela se
baseou nas seguintes questões: para que servem os números? Onde eles
aparecem em nosso dia a dia? Os pequenos falaram do número do sapato, do
peso e da altura. Só então ela propôs criarem um jogo de cartas do tipo
Supertrunfo e perguntou como fazer isso. Com os passos do trabalho já
previstos, Lisiane foi ajustando o que eles diziam e apresentou as
etapas a ser seguidas.
11 Quando é preciso replanejar?
Sempre, já que nunca o que foi previsto se confirma totalmente na prática.
Em geral, o planejamento é ajustado e repensado a cada etapa vencida,
de acordo com os indícios que os alunos dão sobre o que estão
efetivamente aprendendo durante o processo. É comum identificar pontos
que precisam ser retomados antes de iniciar a etapa seguinte ou
conteúdos que necessitam ser reforçados para garantir novas
aprendizagens. "Todo professor deve se perguntar ao fim de cada
atividade ou etapa se o andamento do trabalho está de acordo com o que
quer ensinar", recomenda Paula Stella, coordenadora pedagógica da
Comunidade Educativa Cedac, em São Paulo. Um alerta: ter de replanejar
uma parte do projeto é muito diferente de desenvolver o trabalho de
forma intuitiva. Quando não há um plano, as intervenções ficam menos
efetivas e o professor tem de correr, ao término de cada aula, para
preparar as atividades da próxima. Replanejar é retornar à etapa
anterior, incluir uma nova ou repensar aspectos das que estavam
previstas.
12 Vale interferir para aperfeiçoar o produto final?
Sim, mas desde que o objetivo seja fazer com que a própria turma aperfeiçoe o trabalho realizado. Não
é tarefa do professor melhorar sozinho o acabamento de um cartaz ou o
texto de um diário de campo escrito pelos alunos. Como já devem ter
entrado em contato com diversos modelos do produto final escolhido, eles
podem retomá-los, comparar ao que produziram e corrigir trechos que não
ficaram a contento. "Quando está envolvida com o propósito social do
projeto e sabe para que ele serve, a garotada se dispõe a refazê-lo
inúmeras vezes", avalia Paula Stella. Prova disso é o projeto sobre a
transição do trabalho escravo para o assalariado livre no Brasil,
realizado por Juliano Custódio Sobrinho na EM João de Deus Rodrigues, em
Petrópolis, a 68 quilômetros do Rio de Janeiro. Para a montagem de um
seminário (o produto final escolhido), os alunos realizaram entrevistas
com moradores da cidade. Além de pedir que retomassem algumas conversas,
ao avaliar um esboço do painel de apoio e da apresentação, o professor
apontou problemas e estimulou a construção de novas versões, no que foi
prontamente atendido.
13 Como avaliar os estudantes?
No caso dos projetos, são três os eixos de aprendizagem que podem ser considerados na avaliação:
- o conteúdo;
- o aprofundamento no tema;
- a aproximação com a prática social relacionada ao produto final.
As
respostas dadas pelos alunos ao longo do processo dão pistas sobre o
que já foi compreendido e no que ainda é preciso avançar, assim como os
momentos de sistematização dos conteúdos - quando a turma define com
suas palavras os conceitos estudados. Para Delia Lerner, o processo
permite diminuir a incerteza do professor e do aluno porque nele se
passam a limpo os conteúdos ensinados e aprendidos. Outra boa estratégia
é, no fim de cada atividade, fazer uma análise das produções, que
funcionam como um retrato da aprendizagem até aquele ponto. O conjunto
delas pode revelar os avanços e os problemas enfrentados por cada um. Da
mesma maneira, o produto final, em suas sucessivas versões, também
mostra o percurso pelo qual o aluno passou.
Os projetos
possibilitam ainda uma avaliação do trabalho do professor e indicam em
que pontos sua condução precisa ser ajustada. Um meio de fazer isso é
pensar nos objetivos de ensino e nas condições didáticas oferecidas. A
análise das produções realizadas e das respostas dadas pelos estudantes
no desenvolvimento do projeto também pode ser vista sob a ótica do
ensino. Algumas questões que norteiam as análises: a forma de conduzir o
trabalho foi adequada? Foram feitas intervenções sempre que necessário?
As atividades responderam ao objetivo de cada etapa? Os materiais
usados foram adequados? O tempo previsto foi suficiente? Esse tipo de
reflexão tem uma importância formativa única para o professor e pode
impactar positivamente a prática cotidiana.
14 Qual a importância da culminância?
São
duas as funções principais das cerimônias de fechamento de um projeto
didático: dar ao aluno visibilidade para o processo de aprendizagem pelo
qual passou e apresentar o trabalho da turma para a comunidade e os
pais, que são estimulados a perceber o avanço de seus filhos.
O
evento só cumprirá esses dois papéis se estiver prevista a exposição dos
objetivos de cada atividade realizada, dos registros das várias versões
do produto final e das fotos que ilustram o processo. Fazer uma festa
bonita não deve ser a maior preocupação da escola- como é bastante comum
-, mas o mínimo de organização precisa ser garantido.
Sem
despender muito tempo nessa tarefa, professores e gestores precisam
tomar uma série de providências, como conseguir microfones para as
apresentações orais, organizar as cadeiras para os convidados e
distribuir pelo espaço reservado para o evento suportes para expor os
trabalhos. "Não é correto transformar a culminância na grande estrela de
um projeto. O mais atrativo é o caminho pelo qual todos passaram e as
realizações das crianças", explica Maria Alice Junqueira. Alerta: a
participação dos alunos na culminância deve ter caráter pedagógico,
incluindo a definição de critérios para a exposição do material, e não
na produção de enfeites, o que não se relacionam a nenhum objetivo.
Fonte: www.revistaescola.abril.com.br