O PROCESSO DE
CONSTRUÇÃO DA ESCRITA SEGUNDO EMÍLIA FERREIRO:
Quem
é Emília
Ferreiro?
É
uma pesquisadora argentina radicada no México, essa autora revolucionou o
conhecimento que se tinha sobre alfabetização quando publicou, em 1979 (no
Brasil em 1985), juntamente com Ana Teberosky, suas pesquisas no llivro
PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA.
Como
discípula de Piaget, ao estudar as formas pelas quais as crianças constroem sua
escrita, Ferreiro colocou como motor dessa aprendizagem o próprio
sujeito/aluno, ativo e inteligente, conforme Piaget destaca em sua obras.
A
proposta de Ferreiro foi surpreendente: ela descobriu na sua pesquisa que as
crianças passam por níveis conceituais diferentes e seqüenciais ao aprender a
escrever. Essa concepção fez com que os conceitos de construção da escrita
e do erro fossem alterados.
Abaixo
destacaremos os NÍVEIS encontrados por
Ferreiro:
·
Nível
pré-silábico
Nesse nível, a escrita
da criança não tem correspondência com o som. Ela registra garatujas,
desenhos sem configuração e, mais tarde, desenhos com figuração. Na sequência
registra símbolos e pseudoletras (traçado que reflete seu modo particular de
escrever: bolinhas, risquinhos e etc.) misturadas com letras e números. No
final desta fase, começa a diferenciar letras de números, desenhos de símbolos
e reconhece o papel das letras na escrita. Percebe que as letras servem para
escrever, mas não sabe como isso ocorre. A palavra “ABACAXI” pode ser escrita
assim: “AIUNOAXF”.
·
Nível
silábico
Ao escrever, a criança
conta os “pedaços sonoros” – as sílabas das palavras e das frases – e usam uma
letra para representar cada sílaba. As letras podem ou não ter valor sonoro.
Por exemplo, a criança pode escrever “BONECA” como sendo “BNC” ou mesmo “OEA”
(nesse caso com valor sonoro correspondente) ou, ainda, “FGR” (uma letra para
cada sílaba sonora, mas sem correspondência com o som convencional). A criança
escreve somente com vogais e consoantes, mas sempre com uma representação
(letra) para cada sílaba ou frase.
·
Nível
silábico alfabético
A certeza do nível
silábico é quebrada quando a criança compara escritas ou percebe que os adultos
não conseguem ler o que ela escreve. Ela, então, avança para outra fase, na
qual o valor sonoro torna-se fundamental, e começa a acrescentar letras
principalmente na primeira sílaba. A palavra “BONECA”, por exemplo, é escrita
assim: “BONC”, e não mais “BNC” (escrita silábica). Nesse momento, a criança
encontra-se perto da escrita alfabética, e quanto mais refletir, escrever e
comparar suas escritas, cada vez mais irá se aproximar do último nível.
·
Nível
alfabético
A criança agora
consegue ler e expressar graficamente o que pensa ou fala. Porém, escreve
foneticamente (ou seja, faz a relação entre o som e a letra) e ainda não
consegue escrever ortograficamente. Por isso, são comuns palavras escritas com
pequenos erros, como em “IPOPÓTAMO” (hipopótamo), portanto os erros não passam
de meras fases de superação neste caminho da alfabetização e não devem ser “ENCARADOS”
COMO ERROS.
Ao
realizarmos uma correção na escrita de uma criança, não assinalamos X, como era feito até
algum tempo atrás, pois aquilo que ela “errou” naquele momento será superado
num outro momento e corrigido posteriormente, por isso destacamos o “erro” com
um traço abaixo dele, e isso não significa que a escrita está errada e
sim têm dificuldades a serem superadas presentes na grafia da palavra
(ortografia).
Ninguém
aprende a ler e a escrever se não aprender as relações entre fonemas e grafemas
– para codificar e para decodificar. Isso é uma parte específica do processo de
aprender a ler e escrever. Linguisticamente, ler e escrever são aprender a
codificar e a decodificar, portanto a criança quando na fase alfabética,
precisa receber orientação direcionada sobre as técnicas da escrita, dos
sistemas convencionados usados para escrever e das regras ortográficas
vigentes.
Esperamos
ter esclarecido com este texto as possíveis dúvidas e saciado a ansiedade
daqueles que aguardam pelo momento que o filho desenvolverá a escrita.
A
UNESCO considera alfabetizado a pessoa capaz de ler e escrever pelo menos um
bilhete simples no idioma que conhece. Embora não esteja convencionado o que é
um bilhete simples, essa alfabetização nos remete à certeza de que, na
sociedade contemporânea, para considerarmos alguém alfabetizado, é preciso que
essa pessoa saiba ler, escrever e interpretar, ou seja, que compreenda o que lê
que possa opinar sobre o assunto, que possa utilizar a linguagem escrita como
forma de comunicação para viver melhor.
Com
isso concluímos que nosso objetivo maior não é ensinar nossos alunos a dominar
técnicas mecânicas de leitura e escrita e sim ensiná-los a entender/compreender
o que escreverão para que possam comunicar-se perfeitamente de maneira gráfica
tornando-se assim seres letrados.
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